Título: Grupos aceleram consolidação, dizem BNDES e Petrobras
Autor: Chico San
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2005, Empresas, p. B9

Petroquímica

A reestruturação da petroquímica está madura e é questão de tempo para acontecer. O superintendente da área de insumos básicos do BNDES, Wagner Bittencourt de Oliveira, o projeto da unidade petroquímica básica (UPB), refinaria que a Petrobras, grupo Ultra e o próprio banco planejam montar, uma oportunidade para consolidar o setor. O presidente da Petroquisa (braço petroquímico da Petrobras), Kuniyuki Terabe, avalia que em "um ou dois anos" o setor estará reduzido a "dois ou três grupos". O foco da reestruturação é a região Sudeste, responsável por 70% do consumo de produtos petroquímicos do país. "O mundo se move entre oportunidades e ameaças", disse Oliveira, para quem a UPS dará a oportunidade que o país precisa para robustecer a estrutura empresarial do setor, sepultando a ameaça de que possa ser engolido pelos grandes grupos internacionais. Para o BNDES, a reestruturação é um sonho antigo, reafirmado em estudo setorial concluído em fevereiro. A entrada no mercado da Rio Polímeros (Riopol), inaugurada no mês passado, e a compra da participação da européia Basell na Polibrasil pelo grupo Suzano, que passou a ter 100% do capital da maior produtora de polipropileno (resina para a produção de plásticos) do país, são dois movimentos considerados primordiais da reestruturação. O modelo societário da Riopol (33,3% Suzano, 33,3% Unipar e 33,3% Estado, via Petrobras e BNDES), é considerado o caminho mais viável para formação de uma empresa mais robusta no Sudeste. A Petrobras, que tem a preferência para comprar a parte do BNDES, já declarou que investirá crescentemente em petroquímica, dentro de um modelo semelhante ao da Riopol, que lhe assegure presença no bloco de controle. Nos outros dois vértices do triângulo da Riopol, Suzano e Unipar, ambos de controle familiar (famílias Feffer e Geyer, respectivamente) aparecem como possíveis atores em um processo que levaria à formação de uma empresa capaz de se aproximar do poder de fogo da Braskem (Odebrecht), ao menos na área de polímeros, como polietilenos (outro tipo de resina termoplástica) e polipropileno. A Braskem possui, segundo o BNDES, cerca de 38% da capacidade de produção de resinas (2,33 milhões de toneladas/ano) do país e 42% da capacidade total da petroquímica (6,59 milhões de toneladas/ano). Suzano e Unipar juntas teriam cerca de 31% da produção de polímeros (1,87 milhão de toneladas) e cerca de 21% da produção total, incluindo o eteno, matéria-prima básica do setor (3,38 milhões de toneladas anuais). A Petrobras, que antes das privatizações dos anos 90 controlava três centrais de matérias-primas (Copene, Copesul e PQU) e possuía um terço da segunda geração, hoje, como membro do bloco de controle, possui apenas cerca de 6% da capacidade total e de produção de polímeros. Nesses números já está incluída a capacidade da Riopol. A hipótese de uma futura associação não é descartada pelos dirigentes dos dois grupos, embora sejam conhecidas as resistências que precisariam ser enfrentadas para unir os interesses das duas famílias. Armando Guedes Coelho, diretor-superintendente da Suzano Petroquímica, e Vitor Mallmann, vice-presidente da Unipar, sem descartar a integração, avaliam que há espaço para dois grandes grupos no Sudeste, contando apenas com os que estão hoje no tabuleiro, já que associação Ultra-Petrobras e mais outro parceiro estratégico (o BNDES tende a participar transitoriamente) por si só formaria um forte grupo na UPB. "Fatalmente haverá uma consolidação. O quão grande ela será, vai depender do que vai acontecer", disse Guedes. Segundo ele, o fundamental para o grupo Suzano é que qualquer consolidação passe pelas áreas de polietilenos e de polipropileno, nas quais o grupo deseja focar. Mallmann aposta na integração da PQU, em São Paulo, da qual a Unipar é a principal acionista, em um modelo produtivo semelhante ao da Riopol (matéria-prima e segunda geração no mesmo pólo) como o futuro mais imediato. Ele admite que a necessária redução do número de participantes do mercado pode levar a uma associação mais abrangente.