Título: Demanda externa garante produção
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Empresas, p. B8
Veículos Aumento de 36,6% na receita das exportações no primeiro semestre surpreendeu até as montadoras
O crescimento dos mercados da América Latina, alguns recém-saídos de crise, como Argentina e Venezuela, é o que sustenta as exportações de veículos brasileiros, a despeito da desvalorização cambial. A tal ponto de os próprios fabricantes estarem surpresos com o resultado do primeiro semestre. A receita das exportações nos primeiros seis meses atingiu recorde histórico, num aumento de 36,6% em comparação a igual período do ano passado. Os carros fabricados no Brasil têm 60% do mercado argentino, cujo crescimento deverá passar de 10% neste ano. Somente no ano passado, as exportações de veículos para a Argentina somaram US$ 1,493 bilhão. O México, um novo mercado para as montadoras brasileiras, importou o equivalente a US$ 1,402 bilhão em 2004. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, projeta, ainda, crescimento de 12% no mercado chileno e 24% nas vendas de veículos na Venezuela. Como o Brasil é a base de abastecimento desses países para a maior parte das montadoras (em alguns países essas empresas nem têm fábricas), a estratégia do setor tem sido manter o ritmo de vendas mesmo com a valorização do real. Pesa ainda na estratégia a disputa entre os fabricantes nesses mercados externos. Em boa parte dos casos, a participação da marca depende do abastecimento a partir do Brasil. O ritmo das exportações até agora já é suficiente para indicar que a meta da indústria para o ano será ultrapassada com facilidade. No início do ano, a Anfavea projetou crescimento de 7% na receita com vendas externas neste ano, o que totalizaria US$ 8,9 bilhões. Somente no primeiro semestre, o total faturado com exportações chega a US$ 5,06 bilhões. O valor se aproxima do que foi obtido durante 2003 inteiro. Naquele ano, as exportações de veículos somaram o equivalente a US$ 5,6 bilhões. Golfarb diz que, apesar de as previsões já estarem superadas, a entidade não quer arriscar ainda uma nova previsão porque não sabe o tamanho da queda nos volumes quando o efeito da desvalorização cambial começar a surgir. "Deu tanto trabalho vender um carro com a marca 'made in Brazil' como um produto com qualidade, preço e prazo de entrega, que as empresas estão resistindo ao máximo abrir mão disso", destaca Golfarb. "Mas estamos na contramão do que acontece com o câmbio e por isso perdemos a lucratividade com exportações", completa. O dirigente prevê, no entanto, queda nos volumes. "Não se pode perder dinheiro o resto da vida", destaca. Algumas empresas, como Fiat e General Motors , já começam a notar redução nos pedidos em alguns mercados. Por ora, a exportação praticamente é o que sustenta o ritmo de produção da indústria automobilística. Na primeira metade do ano, as montadoras produziram 1,202 milhão de veículos, um crescimento de 15,7% em comparação com o primeiro semestre de 2004. Na comparação entre os dois períodos, a média diária nas linhas de montagem subiu de 8.311 para 9.617 unidades. Com a possibilidade de exportar além do previsto, é possível ainda que a produção total no ano supere a meta de 2,3 milhões de veículos, o que já representaria recorde histórico e aumento de 5,4% em relação a 2004. A aceleração no ritmo dessa indústria também se reflete no nível de emprego. Somente no mês passado, foram abertos 536 postos de trabalho nas fábricas de veículos e de máquinas agrícolas. A indústria automobilística emprega hoje 10% mais do que há um ano.