Título: Tesouro avisa que vai trocar "em breve" o C-Bond
Autor: Alex Ribeiro e Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Finanças, p. C1

Alex Ribeiro e Cristiane Perini Lucchesi O Tesouro Nacional comunicou ontem que está avaliando realizar em breve uma operação de troca para retirar de mercado o C-Bond, principal e mais conhecido papel da dívida externa renegociada em 1994 nos moldes do Plano Brady. Após o anúncio, os rumores eram de que a troca seria realizada nesta semana ou o mais tardar na outra. No mercado ninguém entendeu, no entanto, qual a razão para o Tesouro avisar com antecedência que iria realizar a troca. Geralmente, as operações são feitas já na manhã do anúncio para evitar justamente altas no preço do título a ser trocado no mercado secundário e perdas para o Tesouro. Alguns supunham que o Tesouro falou em trocar só o C-Bond, mas, na realidade, vai trocar também outros títulos da dívida reestruturada em 94 chamados de bradies, como o DCB, o Par e o Discount. O anúncio da troca do C-Bond provocaria alta em seus preços em relação aos demais bradies, favorecendo a troca dos demais. "O C-Bond é um papel da época da reestruturação da dívida que tem uma cláusula de call", disse o secretário-adjunto do Tesouro, José Antônio Gragnani, referindo à opção de compra antecipada pelo governo. "Por conta disso, decidimos soltar o comunicado para ser o mais transparente possível sobre as nossas intenções", afirmou. Embora o mercado acredite que a troca vai acontecer já e a preços de mercado, o Tesouro não descartou usar a opção de recompra. Mas isso só poderia ser feito no próximo vencimento de juros, em 15 de outubro. A cláusula de recompra diz que, para exercê-la, o Tesouro tem que emitir um comunicado de 30 a 60 dias de antecedência em relação a esta data - ou seja, somente a partir de meados de agosto. Nesta hipótese, pagaria 100% do seu valor de face, como previsto em contrato, abaixo do preço de mercado. Ontem, o preço do C-bond chegou a uma máxima de 102,375% do valor de face e estava às 19h30 a 101,87%, estável (queda de 0,07%) em relação a anteontem. Estigmatizado como o título da moratória de 94, o C-Bond foi o título com maior liquidez entre todos os emitidos pelo Tesouro durante muitos anos. Até 2003 era o benchmark de todos os mercados emergentes, liderando em liquidez. No ano passado, o título da dívida nova, voluntária, do Brasil, o Global 40, passou o C-Bond, com giro de US$ 292,649 bilhões, na comparação com os US$ 222,353 bilhões do C-bond. Em 2003, o primeiro colocado havia sido o C-bond , com US$ 286,779 bilhões e o segundo, o Rússia 30, com US$ 149,027 bilhões. O Global 40 estava em terceiro lugar, com apenas US$ 83,506 bilhões. Os números são da EMTA (Emerging Markets Traders Association). É justamente a opção de recompra antecipada a 100% do valor de face do C-Bond que reduz sua liquidez e o interesse dos investidores mais agressivos, pois acaba por impor um teto para a cotação do título- que não ultrapassa muito 100% do valor de face. Por isso o C-bond foi perdendo sua função de benchmark, hoje consolidada no Global 40. Essa espécie de teto à cotação acaba funcionando como uma trava a maiores quedas do risco Brasil, admitiu Gragnani. "Um papel sem a 'call' deverá ser negociado a um preço mais justo", disse o secretário do Tesouro. Hoje, existe um total de US$ 5,6 bilhões em C-Bonds circulando no mercado, e o volume vem se reduzindo desde 15 de abril de 2004, quando começou a amortização. São 21 pagamentos semestrais até 2014, quando, pelo cronograma original, o título sairia definitivamente de mercado. A troca do título hoje permitiria a redução nas amortizações de curto prazo da dívida externa, portanto. O desejo de retirar o C-Bond do mercado é antigo, e o principal motivo apontado era o contágio que ele causava ao Brasil em crises internacionais. Na moratória russa, em 1998, por exemplo, investidores que perderam dinheiro naquele país venderam C-Bonds, um título bastante líquido, para cobrir posições - a conseqüência, para o Brasil, foi a disparada do risco-país. Mas hoje o C-bond não tem esse papel, que é do Global 40. Por trás da operação de troca, está o interesse de ter preferencialmente papéis adquiridos voluntariamente pelo mercado, e não em uma renegociação forçada da dívida, como em 1994. A operação de troca do C-bond, se levada adiante, não deverá acabar com a dívida renegociada. Segundo os dados mais recentes disponibilizados pelo BC, divulgados antes da amortização da dívida externa de abril, havia US$ 8,5 bilhões em dívida em outros sete papéis. O mais importante deles era o DCB, com US$ 3,312 bilhões, a serem amortizados até 2012; em seguida, o Par Bond, com US$ 1,534 bilhão. Para a maior parte dos especialistas ouvidos pelo Valor, a decisão de fazer a troca neste momento seria acertada. "Trocar dívida de prazo médio mais curto por dívida de prazo médio mais longo pressupõe repassar mais risco ao investidor e neste momento o mercado internacional está disposto a tomar mais risco", disse Ricardo Amorim, chefe de pesquisa para América Latina do WestLB. "Toda troca de bradies é bem-vinda, pois esses títulos trazem estampada a reestruturação de nossa dívida externa", comentou. Alguns bradies (o C-Bond não) têm colaterais, que são liberados nas trocas.