Título: Indústria revela desinteresse por pesquisa na área de nanotecnologia
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Brasil, p. A2

O governo tem encontrado dificuldades para despertar o interesse da iniciativa privada pelos projetos que universidades e centros de pesquisa desenvolvem na área de nanotecnologia, vista atualmente no meio acadêmico como o campo mais promissor do mundo da ciência. Em abril, o Ministério da Ciência e Tecnologia abriu um processo de seleção para escolher projetos de pesquisa nessa área que envolvessem algum tipo de cooperação com empresas. Foram oferecidos R$ 10,5 milhões, mas só apareceram 17 interessados. Os projetos aprovados deverão ser anunciados até o fim do mês. O interesse foi muito maior no ano passado, quando o ministério ofereceu R$ 3,5 milhões para projetos desse tipo. Instituições de pesquisa e empresas apresentaram 73 propostas ao ministério. Apenas 12 foram aprovados, incluindo projetos apoiados por grupos importantes, como a Braskem, do setor petroquímico. O desinteresse verificado agora surpreendeu o governo. "Não achávamos que haveria uma grande procura, mas também não esperávamos uma demanda tão fraca", disse o diretor de políticas e programas setoriais da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do ministério, Jorge Humberto Nicola, em seminário promovido ontem pelos patrocinadores de uma feira sobre nanotecnologia. A nanotecnologia é promissora para a indústria porque permite o desenvolvimento de novos materiais obtidos a partir da manipulação dos seus componentes em níveis microscópicos. Tecidos que não retêm umidade, vidros que não ficam sujos e plásticos mais resistentes fazem parte dos produtos que os cientistas têm desenvolvido nesse campo. O país tem centenas de pesquisadores envolvidos com o tema em cerca de 50 instituições, mas poucas empresas estão prestando atenção. "Avaliamos alguns projetos que vieram das universidades, mas a coisa estava muito crua", disse Fernando Reinach, diretor da Votorantim Novos Negócios, um fundo de capital de risco, que esteve no seminário. O governo planeja aplicar neste ano R$ 11,5 milhões em pesquisas nessa área. Países como os Estados Unidos e o Japão investem quase U$ 1 bilhão por ano. O governo chinês deve gastar US$ 50 milhões neste ano. "Quem não investir agora vai ficar fora desse mercado no futuro", disse o empresário Wanderley Marzano, dono da Aegis Semicondutores. "O governo deveria estabelecer prioridades e evitar que os poucos recursos disponíveis para esse campo sejam pulverizados."