Título: Entidade ligada a laboratórios ataca país por quebrar patente
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Brasil, p. A2

A Federação Internacional das Associações e Produtores Farmacêuticos (IFPMA em inglês) lançou ontem um duro ataque contra o Brasil, advertindo, em um comunicado, que "nenhum país se tornará saudável através de roubo", numa referência à decisão do governo brasileiro de quebrar uma patente da companhia americana Abbott. Ao mesmo tempo, a entidade conclamou os países do G-8 a renovarem seu comprometimento por inovação tecnológica, o que passa pela proteção de patentes, num documento assinado também por grandes grupos farmacêuticos, incluindo AstraZeneca, Bayer Healthcare, Becton Dickinson, Eisai, GlaxoSmithKline, Novartis, Ranbaxy Laboratories Ltd, Sanofi-Aventis. Para a IFPMA, os laboratórios estão prontos a "cooperar" com o Brasil através de redução de preço. E a própria Abbott "não disse que não quer negociar", segundo Eric Noehrenberg, um dos diretores da entidade. Ele considera que quebrar patente não melhorará acesso a remédios essenciais no país. A IFPMA acusa o Brasil de querer quebrar patente mais por razão de política comercial do que de saúde pública, "para promover os interesses da indústria farmacêutica nacional". Adverte que o país está adotando uma tática de "confrontação" na direção oposta de outros mercados emergentes, como China e Índia. "Os perdedores serão os trabalhadores e consumidores brasileiros", diz. Harvet E. Bale, diretor-geral da entidade que representa a industria farmacêutica, diz que o Brasil está enviando um "forte sinal para as empresas de que não recebe bem cooperação com companhias farmacêuticas para tratar das necessidades de saúde pública do país". Noehrenberg vai além e diz que o confronto com a Abbott e a proposta de lei para quebrar patentes trazem "possibilidade real" de desvio de investimentos do Brasil para outros mercados. Ele avisa que o mercado farmacêutico brasileiro é bem "menos dinâmico" que o da China e o do México. Bale cita uma frase que atribui ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que "nenhum país se torna rico roubando a propriedade de outras nações". E completa, no comunicado distribuído a imprensa internacional: "Tampouco nenhum país se tornará saudável através de roubo."