Título: Venda da indústria cai 1,51% em relação a maio de 2004
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Brasil, p. A5

Conjuntura Resultado é primeira queda nesta comparação desde 2003

A economia brasileira trouxe, em maio, o primeiro indicador negativo na comparação com o ano passado. Pesquisa mensal da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que, naquele mês as vendas reais do setor caíram 1,51% sobre maio de 2004 e a média da utilização da capacidade instalada recuou de 82,1% para 81,8% na mesma comparação. As vendas industriais, de janeiro a maio, acumulam alta de apenas 1,73% sobre o mesmo período de 2004. O fraco ritmo das vendas prejudicou o emprego industrial. A CNI informou que, pela primeira vez nos últimos 18 meses, esse indicador mostrou estabilidade na comparação com o mês anterior (no caso, maio em relação a abril). Em relação a maio de 2004, o total de pessoal empregado ficou 5,72% maior que o verificado no mesmo mês do ano passado. E de janeiro a maio, o crescimento foi de 6,54%. Para os economistas da CNI Flávio Castelo Branco e Paulo Mol a perspectiva dos próximos meses pode ser de queda no emprego industrial. Os salários reais na indústria em maio cresceram sustentados pela estabilidade de preços. A variação desse indicador foi de 9,22% sobre maio de 2004. No acumulado do ano (janeiro a maio), a CNI registrou crescimento de 9,06% sobre o mesmo período de 2004. As horas trabalhadas na produção, em maio, mostraram crescimento de 7,55% sobre maio de 2004. Quanto aos cinco primeiros meses do ano, a variação com igual período do ano passado foi de 7,10%. Na análise da CNI, esse indicador está sendo sustentado pelas exportações. A pesquisa mensal Indicadores Industriais da CNI também traz uma comparação dos números de maio com os de abril, filtrados por um ajuste sazonal. Esse confronto mostra quedas de 0,33% nas vendas reais e 0,12% nas horas trabalhadas. Quanto aos salários líquidos reais, a variação foi positiva em 0,78%. No item pessoal empregado, foi registrada estabilidade. Os economistas mostraram também a variação do faturamento real por trabalhador na indústria. Nesse critério, maio registrou queda de 5% sobre o mesmo mês de 2004. Castelo Branco e Mol chamaram a atenção para o surpreendente desempenho das exportações. As vendas externas vêm sustentando a atividade industrial em intensidade não projetada para este ano. A expectativa era de maior participação da demanda interna. A queda nas vendas reais da indústria em maio - 1,51% menores que as de maio de 2004 - é atribuída aos efeitos da política monetária e da valorização do real. Apesar do câmbio, a quantidade das exportações vem aumentando. Mas o alerta que os economistas da CNI fazem é sobre o impacto da excessiva desvalorização do dólar nas decisões de investimentos voltados para as exportações. "Cuidado com o câmbio. É equivocado pensar que, apesar dele, as exportações vão continuar bem para sempre. Esse é um fator crucial para a rentabilidade das exportações", advertiu Castelo Branco. Entre maio de 2004 e maio de 2005, o real valorizou-se 21% em relação ao dólar. Segundo a entidade, aproximadamente 30% do PIB industrial é relacionado com as exportações e 22% do faturamento das grandes indústrias também está vinculado às vendas externas. Na análise de Castelo Branco, o arrefecimento da atividade industrial aliviou a pressão sobre o uso da capacidade instalada porque houve uma maturação dos investimentos. Além disso, a CNI verificou que a importação de bens de capital continua crescendo. Os economistas disseram ontem que, aparentemente, a crise política não está provocando alteração na rotina das indústrias. Castelo Branco também não vê, por enquanto, razão para que os integrantes do Copom alterem a esperada trajetória de queda nos juros. A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul divulgou ontem o Índice de Desempenho Industrial (Idi), que apresentou o pior resultado no período de janeiro a maio desde que começou a ser apurado, em 1992. O indicador caiu 2,26% nos primeiros cinco meses de ano em comparação com o mesmo intervalo de 2004. Em maio, o desempenho chegou a 3,99% negativos em relação ao mesmo mês de 2004. (Colaborou Sérgio Bueno, de Porto Alegre)