Título: Valério diz que avalizou empréstimo como pessoa física
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Política, p. A7

BRASÍLIA - Um amplo leque de políticos, do PT ao PFL, foi citado ontem na CPI dos Correios pelo empresário Marcos Valério de Souza, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do mensalão, como seus interlocutores em " conversas políticas " e " discussões sobre campanhas eleitorais " . A única relação pecuniária que confirmou foi a com o tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, a quem chamou de amigo e com quem foi avalista solidário em um empréstimo de R$ 2, 4 milhões do BMG ao partido.

Um fato novo no depoimento foi Valério dizer que, apesar de ter sido avalista como pessoa física do empréstimo , quitou o primeiro vencimento (R$ 350 mil) como pessoa jurídica. " Na época, o PT não tinha condições de pagar. Paguei, via antecipação feita pela SMP & B, numa transferência direta ao PT " , disse. A razão oficial para a convocação de Valério é que a CPI investiga contratos dos Correios, inclusive um da SMP & B. Mas motivação principal é investigar o suposto esquema do mensalão. Valério negou pagamentos a políticos pelo esquema.

Valério comprometeu o outro avalista solidário do empréstimo, o presidente do PT. Afirmou que só se lembrava da assinatura de Delúbio Soares quando teve em mãos o contrato com o BMG. Um sinal de que Genoino colocou sua assinatura depois da sua e estava ciente de que Valério era co-avalista.

Quase ao final de um depoimento que se estendeu por mais de 12 horas, Marcos Valério decidiu deixar o seu passaporte com a CPI, após ser questionado se tinha planos de viajar ao exterior. Disse ainda que se submete a interrogatório com detetor de mentiras desde que o mesmo seja feito com o deputado Roberto Jefferson, em acareação.

Nas conversas com políticos, tais como o presidente da Casa da Moeda, Manoel Severino dos Santos, e os deputado Roberto Jefferson, José Janene (PP-PR), José Mentor (PT-SP), José Borba (PMDB-PR), falava-se de campanhas passadas e futuras, de acordo com o empresário. Em nenhum momento, afirmou, teria dado dinheiro a qualquer deles, inclusive ao petebista, que disse ter recebido de Valério duas malas somando R$ 4 milhões em espécie. Com Jefferson, afirmou que esteve no começo do ano para discutir a campanha eleitoral de 2006 em São Paulo.

Valério disse não ter certeza se suas empresas fizeram doações em dinheiro a políticos. " Se fiz, foi dentro da lei. Doação que eu me lembre não " , respondeu, ao ser questionado pelo relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Confirmou ter feito as campanhas eleitorais do PT em Osasco, São Bernardo e Petrópolis. Valério disse que criou em 6 de julho de 2004 a empresa Estratégica Marketing e Promoção para basicamente fazer a publicidade de campanhas políticas.

Marcos Valério foi evasivo quando questionado pelo deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) se algum parente ou filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está empregado na Estratégica. Disse que não sabe. " Para falar a verdade, eu não sei nem o nome do filho do presidente da República " , respondeu o empresário.

Sobre campanhas, afirmou, ainda, que fez doação em prestação de serviços para o deputado Roberto Brant (PFL-MG) , e para o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Valério explicou que se encontrava constantemente com Delúbio para discutir, entre outras coisas, " a imagem do PT em relação à sociedade " . Com Sílvio Pereira, secretário-geral do PT licenciado, disse ter um relacionamento " estritamente político porque ele era o responsável por organizar campanhas de prefeituras do PT " .

No início do depoimento, o empresário citou apenas uma campanha do candidato do PT em Petrópolis (RJ), reduto político de Jefferson. Teria atuado na campanha por sua relação de amizade com o presidente da Casa da Moeda, Manoel Severino, do diretório do PT no Rio.