Título: Governadores do PMDB criticam Sarney e Renan
Autor: Raymundo Costa e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Política, p. A8

A indicação dos três novos ministros do PMDB causou insatisfação na bancada pemedebista na Câmara e levou os sete governadores do partido, reunidos em Brasília, a divulgar uma nota na qual censuram os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL) por negociar as nomeações com o Planalto, sem a autorização da sigla, e ameaçam desligar os filiados que aceitaram cargos no governo, como o senador Hélio Costa, convidado para o Ministério das Comunicações, e o deputado Saraiva Felipe, novo ministro da Saúde que, aliás, é secretário-geral da legenda. A nomeação de Felipe, aliás, foi o que causou a insatisfação da bancada governista na Câmara. Felipe sempre se aliou à ala que se opõe ao governo, tendo inclusive tentado conquistar a função de líder na Câmara, apoiado pelo ex-governador Anthony Garotinho (RJ). Os governistas conseguiram 52 assinaturas de deputados em apoio ao governo. Felipe não assinou o documento, mas a seção mineira do PMDB, articulada por ele, deu apoio à proposta de ampliação do espaço do partido no governo. Com a adesão de Minas, os oposicionistas ficaram em minoria. A cúpula pemedebista então armou as indicações para quatro ministérios, conforme a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Saraiva para a Saúde, Hélio Costa para as Comunicações, Silas Rondeau para Minas e Energia e Paulo Lustosa para as Comunicações, Pasta da qual já era secretário-geral, por indicação da ala governista na Câmara. Ao final, sobrou Lustosa e ficou o oposicionista Saraiva, o que revoltou a bancada. A ala governista do PMDB ainda articula para conseguir o quarto ministério e recebeu acenos positivos de Lula, antes de o presidente viajar para a reunião do G-8 na Escócia. No Planalto, porém, assessores do presidente falam em fato consumado. Mas Saraiva Felipe não perdeu tempo: ontem mesmo começou um trabalho de aproximação com o grupo governista e acredita que poderá recompor a grande maioria em torno de seu nome. Garotinho praticamente rompeu com o deputado ao dizer ontem, a reunião dos governadores, que Saraiva era "mineiro como Silvério dos Reis". Após cerca de três horas de reunião seguida de um almoço, no apartamento do deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB, os sete governadores da legenda divulgaram uma nota na qual criticam a adesão das bancadas ao governo. Foi a mais dura nota já emitida pelos governadores do PMDB. Tem seis pontos. O primeiro, defende a investigação "de todos os fatos que estão chocando o país", porque só através "da verdade" haverá "estabilidade e governabilidade". O compromisso com a "governabilidade" foi a tônica de outras notas dos governadores, sempre com a ressalva de que o partido não deveria aceitar cargos no governo. A ressalva permaneceu na nota de ontem, mas o mesmo não ocorreu com o "compromisso com a governabilidade". Os governadores dizem ainda que "os filiados que integram o governo não representam o partido" e ameaça desligá-los de imediato. O quarto item da nota foi o que causou mais desconforto na cúpula da sigla. Diz: "Os senadores José Sarney e Renan Calheiros nunca estiveram autorizados a negociar os cargos ou funções em nome do partido, motivo pelo qual os governadores censuram essas tratativas". O trecho deixou Sarney e Renan particularmente aborrecidos. Mas alguns dos governadores presentes, entre eles Joaquim Roriz (DF), Marcelo Miranda (TO) e Luiz Henrique (SC), telefonaram a Sarney para dizer que foram votos vencidos. Segundo esses governadores, a proposta partiu do senador Pedro Simon (RS). Como além dele, Simon, estavam presentes também os ex-governadores Orestes Quércia (SP) e Anthony Garotinho (RJ), eles não tiveram como impedir a aprovação da nota com a "censura" ao atual e ao ex-presidente do Senado. Em sua primeira entrevista coletiva depois da confirmação para o Ministério das Comunicações, Hélio Costa disse ter pena do deputado Michel Temer contrário à participação no governo federal. Para o senador, o partido tem o "dever de atender" o chamado do Palácio do Planalto neste momento delicado para o país. (RC, colaborou Ivana Moreira, de Belo Horizonte)