Título: Lula começa a reforma ministerial
Autor: Raymundo Costa e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Política, p. A8

Crise Objetivo do governo é recompor a base parlamentar no Congresso e retomar a iniciativa política

Com o anúncio dos nomes dos três novos ministros do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início ontem à reforma ministerial, cujo objetivo e recompor sua base base parlamentar no Congresso e tentar retomar a iniciativa política. O PT perdeu para os pemedebistas dois ministérios estratégicos: Minas e Energia, a ser comandado pelo atual presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, e Saúde, que será ocupado pelo deputado e médico sanitarista mineiro Saraiva Felipe. O Ministério das Comunicações já está em poder do partido e será ocupada pelo senador Hélio Costa (MG). Deixam o governo os ministros Humberto Costa e Eunício Oliveira, candidatos aos governos de Pernambuco e da Bahia, respectivamente, e Maurício Tolmasquim, interino das Minas e Energia desde que Dilma Rousseff assumiu a Casa Civil. O anúncio faz parte da primeira etapa da reforma ministerial que o presidente fez questão de divulgar antes de viajar para a Escócia, onde participa, hoje, como convidado, da reunião de cúpula do G-8. As outras mudanças devem ser anunciadas amanhã. É certo que o deputado Ricardo Berzoini (Trabalho) volta à Câmara e deve ser substituído pelo ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política). Na viagem, Lula decide o destino de Olívio Dutra (Cidades) e Agnelo Queiroz (Esportes), demissões dadas como certa ontem por integrantes do PT, mas não confirmadas por assessores diretos do presidente. Lula avalia também nomear um nome não partidário a ser indicado pelo PP. É certa a saída do ministro da Previdência, Romero Jucá, que deve ser o novo líder do governo no Congresso. Para seu lugar, o presidente pensou em deslocar Ciro Gomes (Integração Nacional), mas o ministro resiste. A Previdência pode acabar com um técnico, que pode ser escolhido na própria equipe do ministério. Os novos ministros tomam posse amanhã à tarde, no Palácio do Planalto, quando Lula anunciará o restante das mudanças nos ministérios. "O presidente não fez nenhum comentário comigo sobre as demais alterações, só me pediu que transmitisse que na próxima sexta-feira ele vai anunciar novas alterações na equipe ministerial", limitou-se a dizer o porta-voz da Presidência. Uma das surpresas da reforma deve ser a manutenção do Ministério da Coordenação Política, que Lula pensou em extinguir. A Pasta absorveria o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, dirigido por Jaques Wagner, e as subsecretarias de Assuntos Federativos e de Ações Parlamentares. As nomeações para cargos voltariam para os ministérios, ficando no Planalto apenas as indicações para os postos de primeiro escalão, como as diretorias de estatais. Jaques Wagner deve assumir a coordenação política - ele recebeu um convite de última hora para integrar a comitiva presidencial na viagem-relâmpago à Escócia para discutir os últimos detalhes da reforma ministerial. É certa a mudança no comando de algumas estatais. O presidente da Infraero, Carlos Wilson, por exemplo, sairá porque é candidato às eleições de 2006. Na noite de terça-feira, o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, esteve reunido com o presidente. Dutra disse a Lula que é candidato em Sergipe, mas ressalvou que estava disposto a ficar até o fim do governo se esse fosse o desejo do presidente. Lula ainda não decidiu. Há dois nomes citados para seu lugar, em eventual mudança: Rodolfo Landim, presidente da BR Distribuidora, ligado ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP), e José Sérgio Gabriele, diretor financeiro da estatal, indicado por Lula para o cargo. Na Itaipu Binacional deve permanecer o petista paranaense Jorge Samek. Haverá mudanças ainda no setor elétrico - Eletrobrás e Eletronorte, cujas presidências estão vagas -, Furnas e Chesf. Os ministérios do PMDB serão verticalizados, ou seja, as estatais e suas diretorias serão preenchidas pelo partido. O critério serve também para os ministérios da Saúde e das Comunicações. Na noite terça-feira, os três novos ministros se encontraram com Lula juntamente com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo; o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP); e o senador José Sarney (PMDB-AP), responsável pela indicação de Silas Rondeau. Os líderes do PMDB reivindicavam mais uma Pasta e o Ministério das Cidades chegou a ser colocado nas discussões, mas, até ontem, a negociação não tinha avançado. O partido vai perder um posto na Esplanada com a saída do ministro da Previdência, senador Romero Jucá (PMDB-RR), alvo de denúncias de irregularidades desde que assumiu o cargo - um técnico deve ser o substituto. O novo ministro das Comunicações foi indicado pela bancada do PMDB no Senado, chegou a ser cotado para assumir o ministério da Previdência, mas recusou o cargo alegando que preferia atuar em uma área com a qual tivesse afinidade. Confirmado, Hélio Costa deu ontem seu primeiro recado para as operadoras de telefonia. Em entrevista em Belo Horizonte, o futuro ministro sugeriu que poderá tomar medidas práticas como mexer no modelo de cobrança da telefonia fixa, acabando com a assinatura básica. "É um pequeno absurdo", afirmou o senador, referindo-se à cobrança. Segundo ele, não faz sentido pagar R$ 30 por uma assinatura de telefone, como ocorre em Minas Gerais, onde atua a Telemar, quando o salário mínimo é de R$ 300. O senador mineiro afirmou ainda que, entre as medidas necessárias em sua pasta, está dar maior agilidade ao projeto de TV digital no país. Hélio Costa lembrou que aceitou o cargo de ministro das Comunicações porque trata-se de área onde poderá contribuir com conhecimento técnico. (Colaborou Ivana Moreira, de Belo Horizonte)