Título: Calçadistas não definem cotas para a Argentina
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2005, Brasil, p. A3

A indústria brasileira de calçados quer resguardar sua participação no mercado argentino e aceita renunciar ao crescimento de suas exportações para o país desde que a medida não favoreça terceiros, indicou ontem à noite o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Ele e outros dois representantes dos calçadistas discutiram, no Rio, as condições para um acordo bilateral de restrição de exportações com o secretário de Indústria da Argentina, Miguel Peirano. Peirano participou ontem de reunião da Comissão de Monitoramento do Comércio Brasil-Argentina. Hoje ele discutirá a questão das salvaguardas com o Ministério do Desenvolvimento e com o Itamaraty, que será representado na reunião pelo embaixador José Eduardo Felício, subsecretário geral para a América do Sul. O tema das salvaguardas não foi tratado na reunião de monitoramento, mas fontes que participaram do encontro indicaram que hoje os negociadores devem discutir uma agenda de trabalho que permita definir as regras para aplicação de medidas de administração do comércio bilateral. O Brasil, que era contrário à criação de um mecanismo de salvaguardas no Mercosul, passou a considerar inevitável a adoção do sistema em caso de ameaça à indústria local. "O tema (das salvaguardas) está sendo conduzido governo a governo, a partir da proposta de Lavagna (o ministro argentino da Economia, Roberto Lavagna). Já foram feitas várias reuniões e há uma seqüência de entendimentos que está ocorrendo para ver se há a necessidade de administrar isso (os contenciosos) de alguma outra maneira, mas nosso grupo de trabalho prossegue suas atividades", avaliou o secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes de Almeida. Almeida, que coordena o lado brasileiro na Comissão de Monitoramento, pediu esclarecimentos a Peirano sobre medida adotada, em junho, pelo Banco Central da Argentina determinando pagamento à vista para importações de bens de consumo. A reunião sobre calçados não definiu volumes (cotas) de exportação para a Argentina e as negociações devem prosseguir em agosto. "Buscamos um fluxo de comércio que mantenha as séries históricas de exportação, mas que não alije a indústria argentina nem cause prejuízo à indústria brasileira", disse Klein. Também participaram da reunião da comissão empresários dos setores têxteis. Em pauta esteve a fixação de cotas na exportação, pelo Brasil, de toalhas felpudas. A Federação Têxtil Argentina quer limitar as exportações brasileiras de toalhas em níveis semelhantes aos de 2004, algo como 3,8 mil toneladas. Pedem ainda a fixação de um preço mínimo de US$ 5,7 por quilo/FOB. O superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, disse que a entidade não endossa as salvaguardas, mas busca atender o pleito dos governos no sentido de que os setores privados cheguem a acordos.