Título: Juro alto inviabiliza retorno de investimento, avaliam empresários
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2005, Brasil, p. A5

Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a taxa de juros básica vigente na economia brasileira (19,75%) "praticamente inviabiliza novos investimentos". Além disso, a entidade considera que a TJLP está em patamar excessivamente elevado (9,75%) e deveria estar em, no máximo, 6% ao ano, o que a tornaria "compatível com o retorno real dos investimentos da indústria sobre o patrimônio líquido", disse o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da entidade, José Ricardo Roriz Coelho, em resposta a questionário enviado pelo Valor. Coelho disse ainda que além da TJLP ser alta, os spreads, do próprio Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos seus agentes financeiros, também são elevados, fazendo com que um empréstimo, dependendo do cliente, possa chegar a uma taxa de 19,95% ao ano, ou dez pontos percentuais sobre a TJLP, ou ainda o equivalente à atual Selic, a taxa básica da economia. "É fundamental a redução da TJLP e dos spreads, como instrumento de política industrial que favoreça e estimule os investimentos, especialmente nesse ambiente macroeconômico", disse, acrescentando que a melhor forma de combate à inflação é o aumento da capacidade de produção. O diretor da Fiesp avalia ainda que, "a despeito da modernização em curso", o BNDES ainda não dispõe dos recursos de gestão e de tecnologia da informação suficientes para agilizar as suas liberações de financiamento. O empresário reclamou ainda que, nas chamadas operações indiretas, falta aos bancos públicos e às instituições privadas uma postura mais "agressiva" no repasse dos recursos. Sobre a situação dos investimentos, Coelho disse que as empresas só estão tocando os projetos "imprescindíveis para que possam garantir suas participações no mercado". E para contornar o problema do custo do dinheiro, essas empresas estão lançando mão de soluções "alternativas" para baixar o custo do investimento, "aproveitando o excesso de liquidez do mercado e o câmbio valorizado". A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) tem posições semelhantes às da Fiesp. De acordo com José Velloso Dias Cardoso, diretor de negócios da entidade, os problemas começam pelo custo do dinheiro do BNDES. O diretor da Abimaq ressalta que recentemente o banco reduziu de 14,95% para 13,95% os juros fixos do programa Modermaq, para financiar a compra de máquinas e equipamentos, porque o projeto estava patinando. "Lá fora, nos países desenvolvidos, o financiamento de bens de capital é a 3% ao ano", afirmou. Cardoso considera que a situação da taxa de câmbio, com o real valorizado, é "desoladora" para as empresas exportadoras, o que estaria levando empresas de setores como o de papel e celulose a postergar seus projetos de investimentos, ainda mais porque as projeções indicam que os movimentos do câmbio em sentido inverso tendem a ser muito suaves, chegando a R$ 2,70 por dólar no final de 2006. Para Cardoso, a taxa Selic inibe as vendas de bens de consumo e, em conseqüência, dos bens de capital. "Quem compra bens de capital pensa em vender seu produto", explica e concluiu: "O Banco Central teve sucesso em frear a economia. E quando ela freia não há investimento e não há empréstimo do BNDES." (CS)