Título: Fundo tecnológico exigirá cooperação com institutos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2005, Brasil, p. A5

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai mudar as regras de funcionamento de um fundo de apoio à inovação tecnológica na indústria que foi lançado há mais de um ano e até hoje não investiu nenhum centavo. Batizado de Fundo Tecnológico (Funtec), ele recebeu um aporte inicial de R$ 180 milhões quando foi criado. A criação do Funtec foi anunciada em maio do ano passado pelo ex-presidente do banco Carlos Lessa, como parte do pacote de medidas de política industrial que o governo lançou na época. Pelo menos uma dúzia de empresas se candidatou aos recursos do novo fundo, mas nenhum dos projetos apresentados foi aceito. Os funcionários do banco tiveram dificuldades para avaliar o potencial das propostas que apareceram e sentiram-se inseguros diante do risco de apostar em projetos de retorno duvidoso. "É difícil saber quando as propostas são realmente inovadoras", disse ontem a gerente do Departamento de Indústria Eletrônica do BNDES, Regina Maria Vinhais Gutierrez, após um debate sobre nanotecnologia em São Paulo. O desenho original do Funtec permite que os recursos do banco sejam aplicados diretamente em atividades de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos nas empresas. As regras atuais autorizam o BNDES a se tornar sócio das empresas beneficiadas e apoiá-las com subvenções não-reembolsáveis, além dos empréstimos tradicionais. Laboratórios farmacêuticos de capital nacional que pediram ao banco dinheiro para investimentos nos últimos meses também se candidataram aos recursos do Funtec para financiar projetos de pesquisa. Mas o BNDES só liberou empréstimos para ampliação de fábricas e aquisição de máquinas. Uma exceção foi aberta no caso da Nortec Química, que recebeu um empréstimo para atividades de pesquisa e desenvolvimento. Mas o BNDES é sócio da Nortec e o dinheiro dessa operação não saiu do Funtec. A principal mudança que o banco planeja introduzir impedirá que os recursos do fundo sejam aplicados diretamente nas empresas. Segundo Regina, o Funtec passará a exigir que os projetos envolvam cooperação com universidades e institutos de pesquisa. Os recursos serão liberados somente para instituições desse tipo. Não haverá mais empréstimos nem aportes de capital com o dinheiro do fundo. "Existe uma produção científica abundante no meio acadêmico, mas não conseguimos encontrar a mesma pujança nas empresas", afirmou Regina. "Nosso objetivo com a reformulação do Funtec é promover casamentos que elevem a capacitação das empresas para fazer inovação." Os detalhes, que ainda dependem da aprovação da diretoria do banco, devem ser divulgados dentro de um mês, segundo ela. Na avaliação de Regina, as mudanças no Funtec permitirão que os recursos sejam usados para introduzir a preocupação com a inovação tecnológica nos projetos de investimento que o banco está acostumado a financiar. "Pode ser um complemento dos empréstimos tradicionais", disse. Na prática o novo desenho do Funtec o tornará muito parecido com os fundos de apoio à pesquisa administrados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, que não aplicam seu orçamento diretamente nas empresas e exigem o envolvimento de universidades e centros de pesquisa para apoiar projetos com interesse comercial para o setor privado. Os fundos do ministério têm R$ 686 milhões para investir neste ano.