Título: Ganhos garantidos
Autor: Letícia Nobre
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2010, Economia, p. 13

TRABALHO

Apesar da forte crise econômica mundial, 80% das categorias profissionais tiveram reajuste salarial acima da inflação em 2009

As negociações salariais da indústria, do comércio e do setor de serviços foram pouco afetadas pela crise econômica mundial. No ano passado, 79,9% de acordos e convenções coletivos resultaram em reajustes acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), apurado pelo IBGE. Apesar da desaceleração de 0,2% registrada na economia em 2009, os contratos dos trabalhadores do setor de serviços com ganho real avançaram 11,1 pontos percentuais em relação ao ano anterior. O balanço divulgado pelo Dieese mostra que o impacto da turbulência econômica que atingiu a indústria refletiu no ganho dos trabalhadores desse setor. As demissões e as suspensões de contrato de trabalho fizeram com que aumentasse o número de reajustes iguais ao INPC de 6,8% em 2008 para 8,3%. De forma semelhante, as negociações com índices abaixo da inflação avançaram de 5,7% para 6,8%. Ainda assim, no acumulado do biênio, 79,5% tiveram aumento de até 5% além do índice de preços. Em maio, divulgamos uma nota técnica indicando que as negociações sindicais conseguiriam resultados positivos ao fechar o ano e que isso levaria a reflexos de baixo impacto da crise, explica o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvério Prado Oliveira. A política de valorização do salário mínimo, o crescimento da massa salarial e o aumento do emprego formal são apontados como os principais motivadores para a elevação do número de categorias que garantiram um ganho real. O comércio se manteve estável com 87,5% dos acordos com ganho real. Em compensação, as categorias que conseguiram reposição do poder de compra avançaram de 4,8% para 8,7%. Entre as 104 negociações dos comerciantes com seus funcionários, 40 foram reajustadas abaixo da inflação. O único setor que cresceu no PIB também foi o que apresentou uma melhora expressiva: 176 categorias superaram o INPC, 28 a mais na comparação com 2008, o que representa 11 pontos percentuais na proporção dos reajustes. De acordo com Silvério, a mobilização sindical perante o governo, exigindo e apoiando iniciativas de redução de impostos e manutenção do nível de emprego, foi um fator importante para amortecer as ações da crise econômica. Os reajustes salariais contribuíram para aquecer o consumo interno e antecipar a recuperação da economia nacional. O comportamento do salário mínimo tornou-se um aliado não só na elevação dos pisos salariais, mas também no reajuste dos salários mais baixos, provocando um efeito cascata sobre as faixas salariais próximas do novo mínimo, conclui o estudo. O aumento dos gastos do governo com investimentos e com as transferências de renda provocou um efeito de irradiação sobre as negociações sindicais tanto motivando os trabalhadores quanto permitindo um maior poder de acordo com os empregadores, avalia o coordenador. Nos últimos seis anos, 80% ou mais das categorias conquistaram reajustes que garantiram a recuperação do poder de compra.