Título: Ex-secretária reafirma acusações
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2005, Política, p. A7
Em depoimento de quase cinco horas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, a secretária Fernanda Karina Somaggio disse ontem que seu ex-chefe, Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o pagador do mensalão aos deputados, usou um doleiro para enviar dinheiro ao exterior para comprar três cavalos de raça. "Fiz um telefonema uma vez para um doleiro porque ele importou três cavalos que foram pagos em dólar", afirmou, em resposta ao questionamento do senador Alvaro Dias (PSDB-PR). O doleiro, que teria escritório em Belo Horizonte, seria Haroldo Bicalho, segundo Somaggio. A secretária reafirmou, em seu depoimento como "informante" da CPI, as acusações contra o ex-chefe e disse que "todas" as suas denúncias foram confirmadas pelos fatos. Listou 33 itens que foram "confirmados". Entre eles, que Valério viajava constantemente de Belo Horizonte a Brasília com malas de dinheiro em aviões particulares e que tinha contatos muito freqüentes com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral do partido, Silvio Pereira, ambos licenciados e suspeitos de organizar o esquema do "mensalão". À vontade entre elogios de deputados e senadores a sua conduta, Somaggio fez ligações entre os saques de alto valor nas contas das empresas de Valério e as viagens do ex-chefe a Brasília. "Os motoboys iam mais cedo retirar dinheiro no Banco Rural, deixavam no departamento financeiro e, em seguida, o Marcos viajava para Brasília", disse. "Ele falava com o doutor Delúbio e avisava que viajaria no dia seguinte. Lembro de um dia em que houve um grande saque e ele disse a um deputado que estava indo para Brasília". A secretária disse que nunca viu o dinheiro nas malas, mas que sabia da "logística" do sistema. E colocou em dúvida o depoimento de Valério de que pagava fornecedores com os saques. A secretária disse que Valério era "extremamente frio, arrogante e sem caráter" e que "sempre se gabava de ter muito dinheiro e de conhecer políticos poderosos do PT, ele gostava de mostrar poder". Ela negou as acusações do ex-chefe de que o chantageou para ganhar dinheiro. "Nunca mandei email para ele nem pedi nenhum centavo a ele. Não preciso de dinheiro". E afirmou não ter recebido dinheiro para dar entrevista à revista "Isto É Dinheiro".