Título: Campo Majoritário decide futuro de Genoino no PT
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2005, Política, p. A8

SÃO PAULO - A reunião que a tendência petista Campo Majoritário realiza durante todo o dia de hoje em São Paulo deve ser mais decisiva para o futuro do presidente do PT, José Genoino, do que o encontro do diretório nacional neste fim de semana.

Por ser a facção que detém mais da metade dos 81 votos do diretório, na história recente do partido suas determinações - que costumam ser quase unânimes - acabam sendo as decisões do diretório. Ocorre que, desta vez, há uma divisão do grupo em relação ao futuro de Genoino, que pode levar à derrota do que a maioria estabelecer.

Devido à união de interesses de algumas tendências de esquerda, como a Democracia Socialista, do ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, e a Ação Popular Socialista, do deputado federal Ivan Valente (SP), já há contabilizados 17 votos pela saída de Genoino. Dependendo do alcance do racha do Campo Majoritário, já seria possível encampar seu afastamento por meio de uma votação amanhã.

Porém, os petistas consideram que não seria viável politicamente um escrutínio interno para decidir a questão. Acreditam que, em um quadro de divisão, Genoino se afastaria voluntariamente. Seria, assim, mais uma questão política do que numérica.

Defensores de Genoino no cargo rechaçam qualquer possibilidade de o presidente da sigla se afastar. Além de dizer que não há provas contra ele, temem pelo futuro do Campo Majoritário dentro do PT. Com uma eventual saída, um novo candidato a presidente pela tendência teria de ser escolhido para concorrer às eleições internas em setembro.

Além disso, um outro presidente teria de comandar a sigla até essa data, o que hoje é uma tarefa difícil, apesar de alguns ministros serem cotados, caso de Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Olívio Dutra (Cidades). O presidente Lula adiou para segunda a conclusão da reforma ministerial iniciada nesta semana e marcada para hoje, em uma sinalização de que um eventual substituto de Genoino poderá vir de Brasília.

A reunião de hoje é vista por integrantes do próprio Campo como " imprevisível " , uma vez que muitos interesses estão em jogo. Os principais líderes da tendência jogam não apenas o futuro político do partido, mas os seus também. O senador e pré-candidato à sucessão paulista Aloizio Mercadante (SP), e seu grupo, são, dentro do Campo, os maiores defensores da saída de Genoino.

Afirmam que isso não significaria uma admissão de culpa, mas uma facilitação na elaboração de sua defesa e do partido. No entanto, pretendem também que a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy - sucessora imediata de Genoino - assuma o cargo e, em meio à turbulência política, enfraqueça-se nas prévias do partido em 2006. Em contrapartida, Marta e seu grupo querem a permanência de Genoino.

Dentro de todo esse cenário, há a certeza de que haverá uma recomposição nos quadros do partido, uma vez que os cargos do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-secretário nacional Sílvio Pereira, que pediram licença nesta semana, estão em aberto. As tendências de esquerda querem aproveitar a oportunidade para " democratizar " o comando do partido.