Título: Risco é de faltar 120 mil profissionais
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2005, Empresas, p. B3

A Datasul, uma das maiores fornecedoras brasileiras de software, vê suas franquias disputando profissionais entre si. A subsidiária nacional da consultoria Accenture, que emprega cerca de 4,5 mil pessoas, prevê um aumento de 25% em seu quadro este ano. A IBM Brasil anunciou a abertura de 2,4 mil vagas ainda em 2005. E isso é apenas uma parte da lista. À medida que as multinacionais começam a alocar o desenvolvimento de seus sistemas no Brasil, a busca por profissionais qualificados por parte das empresas que prestam esses serviços aumenta. O problema é que a oferta ameaça superar a demanda, o que pode se constituir em um gargalo para o crescimento da atividade no país. Os profissionais procurados são programadores, analistas de sistema e consultores especializados em implantação e manutenção de software. Como o cliente é internacional, quem aspirar a uma vaga dessas precisa dominar o idioma inglês - outra barreira que limita o número de candidatos disponíveis. "A demanda está muito grande", afirma Carlos Henrique Testolini, diretor-executivo da Procwork, empresa de serviços de tecnologia que treina profissionais no país. Para medir a extensão do problema, a Secretaria de Política de Informática (Sepin), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, encomendou um estudo sobre o assunto. Os resultados preliminares mostram que, sem investimentos adicionais em educação e formação de profissionais, a tendência de exportação de software e serviços correlatos vai gerar uma carência de 120 mil trabalhadores nesta área nos próximos sete anos. Ainda assim, muitas empresas prestadoras de serviços de tecnologia no Brasil trabalham com profissionais terceirizados, sem carteira de trabalho. Uma das principais reclamações dos empresários do setor é que as leis trabalhistas são particularmente pesadas em uma atividade em que o preço da mão-de-obra é o principal fator para determinar o valor do contrato. Apesar da queixa, o custo por hora do analista de sistemas brasileiro é de cerca de US$ 20, de três a quatro vezes menor do que nos EUA. Se no Brasil a procura por profissionais já é grande, na Índia é muito mais expressiva. Mas esses empregos criados em países mais baratos não significam necessariamente novos postos de trabalho - são, antes, uma transferência de funções. A própria IBM deu exemplo disso. Pouco depois de anunciar, em maio, 13 mil demissões nos EUA e na Europa, a "Big Blue" revelou que pretende contratar 14 mil profissionais em sua subsidiária indiana. Segundo a consultoria Gartner, até 2015 cerca de 30% de todos os empregos de serviços profissionais de tecnologia mudarão de países desenvolvidos para mercado emergentes. A Forrester, outra consultoria americana, estima que 3,3 milhões de postos de trabalho sairão dos EUA em dez anos devido à prática do "offshore". Em um relatório sobre o assunto, o Gartner afirma que "as ramificações políticas, econômicas e sociais desse fenômeno serão gigantescas". Rudy Puryear, líder mundial de alocação estratégica de recursos da consultoria Bain & Co., compara a atual movimentação no setor de serviços de TI, sobretudo em desenvolvimento de software, com o que aconteceu com a manufatura no passado. Quando a fabricação deixou de ser vista como estratégica, as empresas americanas e européias levaram suas estruturas para países mais baratos, como a China. Na última década, o desenvolvimento de software começou a adquirir comportamento de "commodity" e, respeitando-se controles de qualidade e segurança, não há motivo para deixar de fazer essa atividade onde for mais barato. O desenvolvimento das telecomunicações e da internet tornou ainda mais simples trabalhar à distância. Os novos funcionários de chão de fábrica são os programadores, que "escrevem" os código dos sistemas. Em uma verdadeira linha de montagem, cada profissional desenvolve uma parte de um software. Quando seu turno termina, levanta-se e é substituído por outro programador que começa do ponto interrompido. (RC)