Título: O grande momento da África
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2005, Brasil, p. A3

grande importância histórica. Com o devido apoio internacional, o continente pode agir para pôr fim à pobreza e aos conflitos. Esta semana, os líderes do G-8 se reúnem em Gleneagles, na Escócia. Um ponto-chave da Cúpula será chegar a um acordo sobre como ajudar o continente africano. Por que dar ênfase à África? Quando o primeiro-ministro britânico Tony Blair lançou a Comissão para a África no ano passado, ele se referiu ao continente como "uma cicatriz na consciência do mundo" - a única região do mundo onde as pessoas são mais pobres hoje do que há 30 anos. Mais de 40 milhões de crianças africanas nunca pisarão em uma sala de aula. Mais da metade da população vive com uma renda inferior a um dólar por dia. A pobreza é exacerbada pela difusão do HIV e da aids, pela falta de serviços básicos, pelo excesso de corrupção, pela governança, pela violência e pelo déficit tecnológico. Ainda assim, a África está mostrando sinais de esperança. Há mais governos eleitos democraticamente e menos guerras civis. Alguns países têm taxas de crescimento invejáveis. Além disso, por meio da União Africana e da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD), os governos africanos vêm mostrando o tipo de liderança necessária para tornar esse progresso ainda mais real. Por outro lado, os países ricos devem respeitar isso e eliminar o impacto negativo das suas próprias políticas e práticas, tais como os subsídios agrícolas e a exploração excessiva de recursos naturais. Entretanto, muito já foi alcançado. Com o estabelecimento da Comissão para a África em março, e ao fazer da África um dos temas primordiais da atual presidência britânica do G-8, Tony Blair levou esse tema ao topo da agenda internacional. O presidente George W. Bush mencionou justificadamente que a ajuda dos EUA para a África Subsaariana foi triplicada, conforme os compromissos firmados na Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento em Monterrey, México, em 2002. Mais recentemente, o ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, e o secretário do Tesouro dos EUA, John W. Snow, obtiveram o apoio de seus parceiros do G-8 para um perdão de 100% da dívida de 40 bilhões de dólares dos 18 países mais pobres do mundo. Novamente, Blair e Bush merecem crédito por terem planejado esse sistema estratégico. Pessoalmente, sinto-me encorajado pela resposta entusiástica de Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial, a essa importante iniciativa.

Continente está esperançoso e seus governantes têm mostrado o tipo de liderança necessária para tornar esse progresso ainda mais real

No entanto, por mais significativo que seja, isso não é suficiente. Para concretizar o benefício total do perdão de dívida devemos implementar medidas que incentivem um desenvolvimento a longo prazo. Primeiramente, conforme as recomendações da Comissão para a África, deve haver um aumento imediato de 25 bilhões de dólares anuais, com outro aumento semelhante após cinco anos, dependendo dos resultados a curto prazo. Esse valor é baseado em uma estimativa do mínimo necessário para enfrentar os problemas mais urgentes, e para começar a construir os alicerces para um desenvolvimento futuro baseado em acesso a educação e tecnologia, sustentabilidade ambiental, prevenção de conflitos, e resolução e estímulo de iniciativas. O relatório da Comissão para a África, que será a base da discussão do G-8, lida com questões diretas, tais como fraca governança e corrupção, e deixa claro que um aumento da ajuda terá de caminhar lado a lado com melhorias na governança, transparência e responsabilização. Em meu próprio país, África do Sul, o presidente Thabo Mbeki recentemente se sentiu na obrigação de demitir o vice-presidente Jacob Zuma, que estava envolvido em uma situação de corrupção financeira. Isso demonstra o quão seriamente o presidente Mbeki defende um governo transparente e responsabilizado que não irá tolerar a corrupção. Em segundo lugar, precisamos aprofundar nosso comprometimento com a facilitação do comércio e com as metas de desenvolvimento para que o acesso aos mercados ricos - isento de tarifas e cotas - possa ser liberado para produtos dos países mais pobres. Países e regiões enfraquecidos são terrenos férteis para a insatisfação popular e a violência. Vivemos em um mundo interdependente, e o que está acontecendo na África afetará a todos nós. Esta é uma oportunidade que deve ser aproveitada, e o tempo é agora.