Título: Para Serra, mudança agora seria vista como 'golpe'
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Fonte: Valor Econômico, 11/07/2005, Política, p. A6

Na quinta-feira, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) conversaram ao telefone. Relator das propostas sobre o fim da reeleição para presidente, governador e prefeito, Tasso, dizendo-se preocupado com a extensão da crise política, contou que cogitava propor o fim da reeleição já a partir de 2006. Serra levou um susto. No passado, o prefeito defendera a idéia, mas, adotada agora, seria "um golpe", um casuísmo que o PSDB não deveria tomar a iniciativa de patrocinar. O agravamento da crise política reabriu as possibilidades para todos os pré-candidatos tucanos, uma questão que se encaminhava naturalmente para o governador Geraldo Alckmin. A tática era desgastar lentamente o governo Lula, de modo que o presidente chegasse às eleições de 2006 fraco eleitoralmente, mas no cargo. A melhor opção para Alckmin, que partiria para a eleição com a imagem do gestor mais eficiente, o oposto de Lula. Mas o aprofundamento da crise colocou no horizonte dos tucanos a possibilidade real de o presidente vir a sofrer o impeachment. No Congresso, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Netto (AM), redige uma proposta de emenda à Constituição que acaba com a reeleição em todos os níveis e estabelece que o presidente, os governadores e os prefeitos podem se eleger uma única vez para esses cargos. "É para acabar com as oligarquias", justifica. Em princípio, a proposta de Virgílio é para o sucessor de Lula, a ser eleito em 2010, mas ela servirá de base para uma negociação. "Se o presidente tomar a iniciativa e disser que não é candidato em 2006, podemos antecipar a vigência da emenda", diz. Em São Paulo, o secretário de Governo, Arnaldo Madeira, principal articulador da candidatura Alckmin, reagiu prontamente: "Eu não sou a favor de acordo nenhum e posso garantir que dentro do partido não é isso que predomina", disse. Para Madeira, o acordo seria visto pela sociedade "como uma grande pizza e quem está pensando nisso só pode viver no mundo da lua". Os tucanos paulistas asseguram que, em nenhum momento, o ministro Márcio Thomaz Bastos insinuou que Lula poderia desistir de novo mandato em troca da aprovação do fim da reeleição. Nas conversas que teve como Fernando Henrique Cardoso e Serra, semana passada, o ministro Márcio Thomaz Bastos teria na realidade demonstrado angústia com a situação, mas não tinha propostas concretas para salvar o mandato de Lula. O deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), que é amigo do presidente, circulou entre tucanos paulistas preocupado com a possibilidade de a crise chegar até Lula, mas não há nada que aponte para os tucanos que o presidente pense em trocar um novo mandato pelo fim da reeleição para ficar no cargo até o fim do governo. Pelo contrário. Os sinais que Lula têm emitido seriam no sentido de que vai lutar para permanecer no cargo, como demonstrariam a associação com o PMDB e a nomeação do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), novo ministro do Trabalho. A reforma ministerial é a tentativa do presidente de se recompor politicamente e retomar a iniciativa no Congresso; a indicação de Marinho, a demonstração de que Lula está disposto a recorrer aos movimentos sociais como a CUT e o Movimento dos Sem-Terra (MST) para se manter no poder. Os tucanos avaliam que é bobagem dizer que o mercado está preocupado com a possibilidade de o vice-presidente José Alencar assumir o posto. A preocupação seria restrita ao mercado financeiro. E ao PSDB. Se assumir, Alencar pode propor um governo de salvação nacional. Se repetiria a situação Collor-Itamar. Na época, o PT, que tinha um projeto de poder, não aceitou participar do governo. É um dilema que os tucanos prefeririam não ter de enfrentar agora. Por enquanto, a palavra de ordem no PSDB é dureza nas investigações, sem complacência, e equilíbrio na política. Um acordo para tirar Lula da reeleição poderia ser visto, como acredita José Serra, como uma jogada eleitoral, ou seja, contraproducente do ponto de vista dos interesses dos tucanos. A cúpula tucana pretende aguardar os desdobramentos da crise. Mas tanto entre os tucanos como no próprio PT se avalia que a tranqüilidade na área econômica não vai perdurar se a crise chegar a Lula, mesmo que o mercado já tenha em mente que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, possa ser a opção do PT caso Lula não tenha condições de se recandidatar. Com a reabertura de possibilidades, o PSDB reavalia seus candidatos. FHC seria candidato em uma crise muito profunda, o que não é ainda o caso. Serra é o nome do PSDB com mais força nas pesquisas, mas seria candidato numa situação não tão grave quanto à que exigiria FHC e só numa circunstância que justificasse à opinião pública sua saída da prefeitura. A opção a Serra poderia ser o governador Aécio Neves, se a situação exigir um nome mais leve. Para Alckmin, o melhor é levar