Título: PFL avalia que acordo com presidente é impossível
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2005, Política, p. A6

A nomeação do presidente da CUT, Luiz Marinho, para o Ministério do Trabalho reforçou a convicção do PFL de que qualquer acordo com o governo federal envolvendo a desistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em concorrer à reeleição é impossível. "Com esta nomeação, Lula sinalizou o que não fará, que é abrir mão de espaços conquistados. Retira qualquer otimismo", afirmou o vice-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, presidente do diretório regional pefelista. Já na manifestação promovida pela CUT em 1º de maio, Marinho anunciou o seu apoio à reeleição. Recentemente, a central divulgou nota afirmando que há uma conspiração golpista da direita para "desestabilizar politicamente o governo". "É um homem da militância, e não da composição", comentou o pefelista. Mesmo sem este sinal, a disposição do PFL já era manter-se à margem de qualquer negociação, como ficou decidido em uma reunião que o partido promoveu na quinta-feira em São Paulo. "Pacto em meio à crise é impossível. Alguns segmentos do PSDB mostram uma certa alegria com o diálogo, nós não", disse Lembo. De acordo com o vice-governador, a hipótese sequer foi discutida na reunião da Executiva Nacional da sigla. Presidenciável da sigla, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), foi pelo mesmo tom, em entrevista concedido por correio eletrônico. "O PFL não só não apóia um acordo, mas acha que é um casuísmo em cima de uma crise que não se resolve com truques", disse. Para o prefeito, uma emenda constitucional acabando com a reeleição está descartada. "Tentar dar um jeitinho institucional é o pior caminho", afirmou. Apesar da determinação do PFL em não negociar, nos últimos dias o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, encontrou-se com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que tem ascendência sobre cerca de 30% da bancada do partido no Congresso. O senador baiano esteve próximo do governo em 2003, mas afastou-se no ano passado em razão do processo eleitoral, em que seu grupo político confrontou-se diretamente com o PT. No fim do mês passado, em um evento na Fiesp, ACM comentou que um pacto entre governo e oposição poderia ser possível, desde que o governo "mudasse de rumo". Lembo minimizou a importância do diálogo entre o senador baiano e o ministro da Justiça. "Eles têm uma relação pessoal, de quem já foi advogado e de quem já foi cliente. É outra coisa", afirmou, ressalvando que ACM sempre teve autonomia de ação dentro do partido. Sempre um tom acima do PSDB, partiu do PFL, por meio de Cesar Maia, a primeira sugestão de impeachment do presidente, no dia seguinte à entrevista do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) que mencionou o mensalão. Com o desenrolar da crise, o partido recuou deste tipo de avaliação e hoje afirma querer que o governo federal chegue ao final. "Lula tem que sofrer até o fim os efeitos de sua volúpia", disse Lembo. A interrupção do governo petista, contudo, não desapareceu dos cenários desenhados pelos pefelistas. "Não sei se o governo vai até o final. Espero que vá. A oposição não fala e não quer o impeachment, mas a legalidade pode exigir isto", disse o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), na sexta-feira. Na quinta-feira, Cesar Maia havia comentado em São Paulo que o prefeito da cidade, José Serra, havia se tornado o mais forte presidenciável tucano por ter perfil oposto ao de Lula. Indagado sobre como via as possibilidades eleitorais do vice-presidente José Alencar e do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, cenário caso Lula não seja candidato no próximo ano, o prefeito respondeu: "Não me cabe fazer previsões em outros partidos, mas Ciro Gomes tem o mesmo perfil (de Serra)". O pefelista não quis comentar como ficavam sua própria viabilidade eleitoral com o novo cenário.