Título: Petistas rejeitam acerto com PSDB para acabar com a reeleição
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2005, Política, p. A6

SÃO PAULO - Dividido em relação a quase tudo, as correntes moderadas e radicais do PT são unânimes em rejeitar um suposto acerto entre o governo federal e o PSDB para colocar fim à reeleição. Mesmo enfraquecido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é visto como fator de unidade e nome eleitoralmente mais viável. Quando provocados, entretanto, dirigentes do partido já aceitam discutir alternativas, caso Lula não seja candidato no próximo ano. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, é o nome que levantaria mais resistências. Na bolsa de especulações cita-se também o novo presidente do PT, Tarso Genro, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP) e a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.

As tendências de esquerda preferem falar em petistas desvinculados do governo, como o ex-ministro da Educação e senador Cristovam Buarque (DF), que, já se manifestou pela desistência da candidatura de Lula. As alas mais moderadas listam nomes fortes do Campo Majoritário, como o de Palocci, o de Mercadante e de Marta. Uma alternativa levantada por ambos os lados é Tarso Genro. Essa hipótese, evidentemente, dependeria de sua atuação no comando do partido em meio a maior crise de sua história. " Na medida em que o Tarso realize um grande trabalho na presidência do partido, ele automaticamente se credenciará para ser candidato no futuro " , afirma o deputado federal Jorge Bittar (RJ).

O deputado federal Ivan Valente (SP), da tendência de esquerda Ação Popular Socialista, rechaça o nome de Palocci como candidato, por considerá-lo responsável pela crise política. Chega até a ameaçar uma debandada no partido, caso o nome do ministro seja escolhido: " A política econômica é a mãe de todos os erros do PT. O desastre partiu daí. Uma política econômica conservadora pediu uma governabilidade conservadora que levou ao fisiologismo e a aliança com os partidos que têm marcas de corrupção. Se for essa a alternativa (Palocci), uma grande parte dos petistas não permanece no partido " . Para Chico Alencar (RJ), Palocci seria um bom candidato da oposição. " Ele é um bom candidato para os tucanos, de repente ele até vai ser candidato deles. "

Se há divergências quanto aos nomes, o cenário muda quando o assunto é o eventual acordo com o PSDB para salvar o governo e a imagem de Lula. Todos negam a possibilidade. Mercadante disse que não há qualquer entendimento nesse sentido e que qualquer alteração nas regras eleitorais deveria valer apenas para as gestões futuras. Afirma ainda que é preciso separar do debate sobre o instituto da reeleição a crise política. " Faço uma crítica pública àqueles que vincularem uma coisa à outra. O país tem que apurar tudo o que está aí. A avaliação que se faz é que em um mandato de quatro anos, o presidente entra já como candidato à reeleição e isso dificulta muito a própria governabilidade. É uma discussão de política estrutural, não pode estar associada à crise, mesmo porque o presidente foi eleito com direito a ser reeleito, esse foi o mandato que deram a ele. "

O também senador Eduardo Suplicy (SP) diz acreditar que a matéria não esteja sendo objeto de negociação e, se fosse, não incentivaria o presidente a bancá-la. " Se o Fernando Henrique agora quer acabar com a reeleição eu penso por que ele não pensou melhor quando a propôs? " , questiona.