Título: Manguinhos ameaça parar produção e culpa política de preços da Petrobras
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2005, Empresas, p. B8

Enquanto a atividade de refino eleva os lucro das petroleiras em todo o mundo, acumulando margens de lucro de 7%, a refinaria de Manguinhos, no Rio, vai paralisar a produção de derivados no final do mês. É quando termina o atual estoque de petróleo armazenado. O diretor de relações com investidores de Manguinhos, Marcus Vasconcellos da Fonseca, culpa a Petrobras dizendo que a decisão se deve à impossibilidade de competir com os preços dos derivados vendidos pela estatal. Manguinhos está tendo prejuízo mensal de R$ 5 milhões. Com os preços ascendentes do petróleo no mercado internacional, na faixa de US$ 60 o barril, as refinarias privadas do país (além de Manguinhos existe a Ipiranga, no Sul e as centrais petroquímicas) não conseguem competir com uma empresa integrada como a Petrobras. Os derivados vendidos pela estatal no Brasil acumulam defasagem em relação aos preços internacionais, que balizam as vendas de petróleo no mundo, inclusive as da própria estatal para terceiros. No primeiro trimestre Manguinhos registrou prejuízo de R$ 20 milhões, volume que ultrapassa todo o lucro obtido em 2004, que foi de R$ 15 milhões. A dificuldade de comprar matéria-prima já tinha provocado redução da produção total de Manguinhos. Com capacidade de processar 16 mil barris/dia, houve redução da carga processada há cerca de seis meses para nove mil barris/dia. Nos últimos quatro meses, a produção mensal de gasolina na refinaria fluminense caiu de 28 milhões para 9 milhões de litros. Cada barril de petróleo custa para Manguinhos US$ 63 (incluídos os custos com importação, transporte e armazenamento). Pelos cálculos de Vasconcellos, para competir com a Petrobras ela teria que pagar US$ 47 por cada barril. "A Petrobras tem que resolver onde quer errar. Se na política comercial ou na venda de petróleo", afirma Vasconcellos. "Achamos que devemos comprar petróleo por um preço compatível com o dos derivados no mercado nacional ou que a Petrobras deve reduzir o preço do seu óleo", conclui. Procurada, a Petrobras não se pronunciou sobre o assunto. A expectativa do diretor de Manguinhos é de que poderá atender os clientes da refinaria até meados de agosto. Vasconcellos calcula que a paralisação das atividades vai custar cerca de R$ 1 milhão. E disse que ainda é cedo para prever o destino dos 334 funcionários. Ao mesmo tempo em que planeja parar a produção, o diretor explica que pretende maximizar as operações da Manguinhos Distribuidora e aproveitar sua logística - tem um terminal próprio na baía de Guanabara - para alavancar a operação com produtos líquidos como petroquímicos e álcool. "Queremos diversificar as atividades de distribuição de combustíveis, comprando de terceiros, e distribuindo no mercado nacional, eventualmente, importando produtos. Nossa idéia é atuar como distribuidora e trader", explicou Vasconcellos. Levantamento do Centro Brasileiro de Infra Estrutura mostra que a participação total das refinarias privadas no mercado brasileiro de gasolina e diesel vem caindo. Em 2000, Manguinhos respondia por 2,4% da produção de gasolina A do país, participação que tinha caído para 1,7% em 2004. Até abril de 2005, a participação era de apenas 0,8%. O mesmo aconteceu com a Ipiranga, que viu sua participação no mercado de gasolina cair de 2% do para 1,1% entre 2000 e 2005. Vasconcellos calcula que os preços da gasolina vendida pela Petrobras estão defasados em cerca de 30%, enquanto no diesel a defasagem é de 16%. Já o CBIE calcula que a defasagem é menor, de 14% na gasolina, porque seu cálculo é feito com base na paridade de exportação e na de importação. No diesel a defasagem da Petrobras, segundo o CBIE, é de 18%. Reativada no fim de maio depois de suspender as operações durante um mês e meio devido à elevação das cotações do petróleo, a Ipiranga informou na sexta-feira que tem estoque de matéria-prima, adquirida da Bolívia e da Argentina, suficiente para trabalhar até meados de agosto. A empresa não informou o que fará depois disso. Conforme a assessoria de imprensa, a refinaria vem operando normalmente, processando 12 mil barris diários, mesmo patamar desde a reativação. (Colaborou Sérgio Bueno, de Porto Alegre)