Título: Lula começa a trocar comando das estatais
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2005, Política, p. A4

BRASÍLIA - Após desencadear a reforma ministerial e conversar com todos os petistas que pretendem ser candidatos nas eleições de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedica agora a mover as últimas peças de uma grande troca no comando das empresas estatais. Petrobras, Infraero, Eletrobrás, Eletronorte estão na mira do presidente, que deve avançar na reestruturação iniciada no Banco do Brasil.

A dança de cadeiras na Petrobras, em particular, tem mobilizado parlamentares e ministros em torno da defesa dos seus nomes preferidos. O mais forte para substituir o ex-senador José Eduardo Dutra na presidência da estatal petrolífera é o do diretor financeiro da companhia, José Sérgio Gabrielli, que tem poderosos aliados no Palácio do Planalto.

Indicado pelo ministro Jaques Wagner, ele ganhou nos últimos dias o apoio da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Dutra confirmou na sexta-feira que já manifestou a Lula a intenção de candidatar-se no ano que vem. Se o ex-senador for de fato afastado da Petrobras, o maior concorrente de Gabrielli para assumir o cargo é o atual presidente da BR Distribuidora, Rodolfo Landim.

Nos bastidores, quem mais tem trabalhado por Landim é o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele também conta com a simpatia de outros parlamentares influentes e é de absoluta confiança da ministra Dilma Rousseff.

Dilma prefere que Landim continue onde está, para que não se abra mais uma disputa de poder na chefia de estatais. Ligado ao PT, mas bem recebido pelo mercado desde o início da atual gestão, Gabrielli seria uma solução caseira para as mudanças na Petrobras, com boa repercussão no setor, acredita Dilma.

A troca de cargos na petrolífera deve tirar Ildo Sauer da diretoria de gás e energia. Os seus dois principais apoiadores no governo estão em baixa: o ex-presidente do PT, José Genoino, e o ministro Luiz Gushiken. O diretor de exploração e produção, Guilherme Estrella, tem força no cargo com os recentes recordes obtidos pela Petrobras. Na semana passada, porém, o PP voltou a pressionar o governo pela nomeação de Djalma Rodrigues para essa diretoria. O emissário foi o deputado federal Ciro Nogueira (PP-PI).

No setor elétrico, o espaço do PMDB deverá ser ampliado com a chegada de Silas Rondeau ao Ministério de Minas e Energia. Seu provável substituto na presidência da Eletrobrás é o atual diretor de projetos especiais da estatal, Aloisio Vasconcelos, ex-deputado federal.

O Valor apurou que Vasconcelos já foi sondado e a sua nomeação pode ser anunciada na quarta-feira. O ex-presidente e senador José Sarney tenta emplacar um indicado seu para a Eletronorte, mas a inclinação de Lula é optar por um funcionário de carreira da própria estatal: José Antônio Corrêa Coimbra, técnico da empresa há mais de 25 anos.

Dilma não pretende se opor a essas indicações porque se sente representada nas duas empresas por seus " gerentes " : Adhemar Palocci (Eletronorte) e Valter Cardeal (Eletrobrás), ambos diretores de engenharia e responsáveis por zelar pelo bom funcionamento delas, que são os homens de confiança da ministra.

Na Infraero, o presidente Carlos Wilson pediu demissão a Lula. Disse querer ser candidato a deputado federal pelo PT de Pernambuco, mas nutre uma esperança: que o Palácio do Planalto o indique para uma vaga no Tribunal de Contas da União.

Enquanto isso, Wilson tenta emplacar um funcionário de carreira da própria estatal para a presidência da empresa responsável pela administração dos aeroportos. Ele corre por fora. O mais provável é que o cargo seja entregue ao ex-deputado Airton Soares, membro do conselho de administração da Infraero.

No conglomerado Banco do Brasil, devem sair ainda o diretor de marketing, Henrique Pizzolato, e o presidente do Banco Popular do Brasil, Geraldo Magela. Magela deve sair porque pretende disputar o cargo de governador do Distrito Federal.