Título: Percentuais para corte de subsídios e tarifas ficam para outubro, diz Amorim
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Brasil, p. A3

Os Estados Unidos e a União Européia (UE) estão dispostos a usar as propostas do G-20 como forma de fazer avançar a negociação agrícola na Organização Mundial de Comércio (OMC). Foi o que disse o embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney após uma demorada reunião com os outros quatro principais parceiros da negociação agrícola: Estados Unidos, União Européia, Austrália e Índia. O grupo liderado pelo Brasil delineou proposta de fórmula intermediária entre o que querem americanos e europeus para cortar as tarifas agrícolas, prazo de cinco anos para eliminar os subsídios à exportação, além de redução efetiva nos subsídios internos. "Não é que eles estejam de acordo com toda nossa proposta, mas ela passa a ser ponto de referência para a negociação progredir", afirmou Hugueney. Mas vários delegados mostravam-se céticos. "Estamos examinando, somos educados", comentou o suíço Luzius Wasesha, principal negociador do G-10, grupo especialmente protecionista. O representante americano, Peter Allgeier, não quis comentar. Nesse cenário, na véspera da conferência de 30 ministros de comércio hoje e amanhã em Dalian (China), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, chamou a atenção contra "expectativas excessivas", notando que "agora a questão é encaminhar (a negociação) de forma a não descarrilar, porque esse risco sempre existe". A conferência conta com 350 participantes e o primeiro tema é a agricultura. As articulações eram intensas ontem, mas Amorim confirmou que o pacote agrícola previsto para o fim deste mês na OMC será parcial e só deverá ser completado em outubro. "Algo vai sair" na parte agrícola OMC até o fim do mês, acha o ministro. Mas os percentuais de cortes de tarifas e de subsídios só começarão a ser colocados na mesa em outubro e provavelmente acertados só em dezembro. Essa é uma avaliação comum, saída de reunião entre Brasil, EUA, UE e Índia na semana passada em Londres. Para certos negociadores, também é uma evidência. "Se passar de outubro, a conferência de Hong Kong em dezembro deverá fracassar, a Rodada Doha vai para os ares e a OMC vai entrar numa nova crise profunda", comentou um delegado. Para Amorim, dividir o pacote já tímido não significa diminuir o grau de ambição da negociação. Antes da conferência ministerial, hoje, ele se encontrará com o ministro chinês de Comércio, Bo Xilai, a pedido deste. Amorim acredita que o chinês vai reiterar que quer encontrar uma solução para o problema trazido por exportações de seu país ao mercado brasileiro, a fim de evitar barreiras.