Título: Brasil prepara nova cúpula dos países da América do Sul
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Brasil, p. A3

Instabilidade nos países andinos, animosidade contra o Brasil na Argentina, crise política no Brasil, nada disso afetou um novo plano ambicioso de política exterior do governo brasileiro: poucos meses depois de ter realizado uma reunião de cúpula entre países árabes e sul-americanos, o presidente Lula realizará no Brasil, em setembro, uma nova reunião para todos os presidentes da América do Sul. Os detalhes do encontro serão discutidos pelos ministros dos países sul-americanos em um encontro no Equador, no início de agosto. O tema principal serão as obras de infra-estrutura no continente, mas o Brasil poderá propor até medidas para abolir, no futuro, a necessidade de vistos no trânsito de cidadãos entre os países da região. Será a primeira reunião de cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações, desde sua criação, em 2004. O governo brasileiro já dispõe de uma lista de pelo menos 29 obras e projetos de investimento em que há interesse de participação de empresas brasileiras, e características que permitem o financiamento, parcial ou total, do BNDES. O objetivo é reavivar a idéia de que as obras de infra-estrutura deverão estreitar as relações e aumentar a integração entre os países do continente. Na lista do governo, há obras já iniciadas, como a do gasoduto San Martin, que levará gás da Patagônia a Buenos Aires, com participação das brasileiras Petrobras, Odebrecht e Confab; e há projetos ainda em fase inicial de discussão, como os projetos para criação de infra-estrutura na região do rio Meta, atualmente na área de influência da guerrilha colombiana. A integração regional a partir das obras de infra-estrutura tem entusiastas em outros países, como no Chile do presidente Ricardo Lagos (um dos poucos chefes de Estado da região livre de fortes turbulências no cenário político interno). Assim como a exploração do ferro e o aço no Vale do Ruhr foram a semente do que é hoje a União Européia, as estradas e projetos de integração energética unirão a América do Sul, profetizou o chileno, na reunião do Mercosul, no mês de maio, no Paraguai. Na Argentina, porém, o projeto da Comunidade Sul-Americana é recebido com frieza, e diplomatas do país afirmam que não será surpresa se o presidente Néstor Kirchner faltar ao encontro. Além de acreditar que os esforços pela Comunidade Sul-Americana esvaziam o empenho necessário para sanar as divergências no Mercosul, Kirchner estará, em setembro, no auge da campanha política para o Senado, a primeira eleição em que testará de fato sua popularidade - e na qual disputa prestígio, entre os peronistas, com o ex-presidente Eduardo Duhalde, com quem não conseguiu pôr-se de acordo para lançar um candidato comum a senador por Buenos Aires, principal colégio eleitoral do país. Apesar da crise na Bolívia, da instabilidade no Equador e no Peru, da estagnação econômica nos sócios menores do Mercosul e das incertezas na Argentina, o governo brasileiro acredita ser possível aproveitar o encontro para estabelecer instituições permanentes de consulta e cooperação entre os países sul-americanos, apesar de também estar às voltas com uma grave crise política. "O propósito é discutir linhas de ação e projetos com os países da comunidade sul-americana", informou ao Valor o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Ele explica que os governos da região têm feito encontros informais, mas essa seria a primeira grande reunião de presidentes exclusivamente dedicada aos problemas do continente, desde a criação da comunidade, em Cuzco, no Peru, há quase um ano. O Brasil pretende estimular a realização de acordos para políticas comuns na região - meta ambiciosa, quando se vê que a Venezuela tem projeto próprio de ação externa, o bolivarianismo de Hugo Chávez, e persistem, principalmente entre os países andinos, questões locais, como divergências entre Equador e Colômbia a respeito do combate aos guerrilheiros colombianos, e a fumigação de lavouras de coca, com apoio americano. Apesar das dificuldades, está nos planos do Itamaraty a discussão de acordo regional para uma política comum de defesa e segurança nas fronteiras, a criação de mecanismo permanente de diálogo político e as discussões para a futura extinção das exigências de vistos e passaportes no trânsito de sul-americanos pelo continente, medida já adotada no Mercosul.

Matérias relacionadas:

¿ 12/07/2005 Discussão sobre carros será retomada dia 29 ¿ 12/07/2005 Percentuais para corte de subsídios e tarifas ficam para outubro, diz Amorim

Olá, Lisane! para sair clique aqui Busca no Valor OnLine:

Busca avançada