Título: Volume de denúncias compromete unificação de CPIs
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Política, p. A4

Maria Lúcia Delgado O presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou ontem que não vê problemas na fusão da CPI Mista do Mensalão à CPI dos Correios, mas enfatizou que só avaliza a decisão se essa for a opinião da maioria dos líderes partidários. "O que for preciso fazer para dar eficácia às investigações e agilizar os resultados, nós vamos fazer. O que a maioria quiser, faremos. Não vejo diferença se é uma, duas ou três CPIs", disse Calheiros. A oposição, que insistiu na instalação da CPI Mista do Mensalão, agora é defensora da anexação e da ampliação do foco de investigações da CPI dos Correios. Na base aliada não há consenso. O debate sobre a fusão de CPIs, que está sendo travado desde a semana passada, gera controvérsias e sua eficácia é questionada tanto entre líderes quanto entre os membros da CPI Mista dos Correios. O fato é que o volume de denúncias assusta os parlamentares. O rumo das investigações será decidido hoje à tarde durante reunião de líderes do Senado e da Câmara. Se houver anexação, o número de integrantes da CPI deve aumentar e serão definidas sub-relatorias, com grandes temas. O PSDB defenderá na reunião de hoje também a ampliação do foco de investigação da CPI dos Correios, permitindo que sejam investigados os fundos de pensão, o Instituto Resseguros-Brasil SA, o Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transportes e as agências de publicidade. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), membro da CPI dos Correios, acha que a conexão entre os temas das CPIs é inevitável, mas reconhece que a anexação pode gerar problemas operacionais: "Podemos ter uma agenda de depoimentos humanamente impossível de ser concluída". Um integrante da CPI disse ao Valor que o leque de denúncias aponta para dois prováveis grandes esquemas de corrupção de caixa 2 para campanhas eleitorais: um que liga empresas privadas a agências de publicidade; e outro que envolve estatais. Ambos estão imiscuídos numa intricada rede de lavagem de dinheiro, tendo como pivô o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, já ouvido pela CPI. O empresário pode ser reconvocado pela comissão. "Estou totalmente aberto a encontrar uma saída racional. Uma CPI tem que ter estratégia e foco. Foi a oposição que pressionou pela instalação da CPI do Mensalão", recordou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). O petista sempre considerou mais racional concentrar a investigação do mensalão na Câmara. O líder lembrou, ainda, que todos os partidos estavam convencidos que o excesso de CPIs prejudica a governabilidade e o funcionamento do Congresso. Sob reserva, parlamentares da oposição fazem um mea-culpa e admitem que a criação da CPI Mista do Mensalão foi apenas um gesto político para provar ao governo que o tema seria investigado. O objetivo central, confessam os oposicionistas, era forçar o governo a concordar com a ampliação das investigações na CPI dos Correios. "No início deste processo eu alertei que poderia haver uma correlação entre os fatos, mas a oposição não aceitou", ponderou o presidente do Senado. A CPI Mista do Mensalão já foi criada, mas não instalada. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), confessa ter dúvidas se a fusão das investigações é o melhor caminho. "Acho que pode ser útil, mas também pode ser prejudicial. Não tenho um convencimento. É um emaranhado muito grande de temas. Não adianta também agigantar a CPI e dificultar os trabalhos", opinou Serraglio. O relator enfatizou, no entanto, que seguirá as orientações de seu partido.