Título: PFL decide hoje destino de deputado
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Política, p. A4

Crise Parlamentar da Igreja Universal é preso com sete malas cheias de dinheiro em aeroporto em Brasília

O PFL reúne hoje sua Executiva para analisar a expulsão do deputado federal João Batista Ramos da Silva (SP), bispo e presidente da Igreja Universal do Reino de Deus, detido ontem no aeroporto de Brasília com sete malas cheias de dinheiro. Ele e mais seis pessoas, dentre os quais dois pastores, foram abordados pela Polícia Federal pouco depois das 10h, no hangar da TAM, quando embarcavam em um avião particular da própria Universal com destino a São Paulo. O parlamentar e os demais passageiros foram convidados a prestar esclarecimentos na superintendência da PF no Distrito Federal, onde ficaram durante todo o dia. Até a noite de ontem, os agentes não tinham conseguido contar todo o dinheiro apreendido, apesar de o Banco do Brasil ter emprestado três máquinas de contagem. O resultado parcial de três malas era de R$ 5 milhões. Ao ser abordado, o deputado apresentou uma declaração da Universal. No documento, a igreja assume a propriedade do dinheiro e diz que João Batista, como um dos presidentes da entidade, teria permissão para transportar as malas. Em nota divulgada à imprensa, a Universal argumenta que o transporte de moeda nacional pelo país não configura crime. A igreja informa que a fonte do dinheiro foi o dízimo recolhido de fiéis em festas realizadas para comemorar os 28 anos da Universal, no sábado. O dinheiro estava sendo levado para a sede da instituição, em São Paulo. Serviria para o pagamento de contas de água, luz, telefone, do salário de funcionários e das demais despesas de todas as igrejas do país. A Universal também explicou porque não fez a transferência bancária do dinheiro: as agências dos estados onde foi recolhido não tinham "condições" de receber o dinheiro. Cada mala continha uma etiqueta com o nome de um Estado. O Valor apurou que o avião particular da Universal tinha ido a diversos estados antes de passar por Brasília. Antes de chegar a São Paulo faria escala em Goiânia e talvez ainda outras cidades. O senador Marcelo Crivella (PL-RJ) falou em nome da Universal. "O transporte em moeda nacional não configura crime. É dinheiro de doação dos fiéis, não tem nada a ver com dólar na cueca", disse, em referência ao petista José Adalberto Vieira da Silva, assessor do líder do PT na Assembléia do Ceará, José Nobre Guimarães - irmão do ex-presidente do PT, José Genoino -, preso sexta-feira quando tentava embarcar com R$ 200 mil em uma valise e mais US$ 100 mil na cueca, em Congonhas. Crivella estima que o bispo João Batista estivesse transportando algo em torno de R$ 18 milhões. Por causa do deputado detido, a tarde de ontem teve momentos de tensão à frente da sede da PF, em Brasília. Por volta das 16h30, agentes da Polícia Federal prenderam onze seguranças da Universal no estacionamento do prédio da superintendência. Armados e sem identificação, os homens foram levados para dentro da sede. A PF suspeitou da movimentação dos seguranças e resolveu detê-los. Dez dos presos eram policiais militares de Brasília e um de Goiânia. Juristas ouvidos pelo Valor informam que o transporte de moeda nacional não precisa ser notificada e é legal. "Não é crime, mas o dinheiro pode ser apreendido para verificação da origem", diz o advogado Antônio Pitombo. Para Gilberto Garcia, autor do livro "O Novo Código Civil e as Igrejas", apesar de as instituições religiosas serem imunes do pagamento de imposto de renda, elas são obrigadas a fazer declaração anual à Receita Federal. João Batista já responde a processo no Supremo Tribunal Federal ao lado de Crivella, acusados de serem sócios-gerentes da TV Cabrália, participação vedada a parlamentares. A PF enviará o caso ao STF. Os ministros da corte decidirão se será aberto inquérito para investigar a origem do dinheiro. Há suspeita de lavagem de dinheiro. João Batista foi diretor-presidente da Rede Record entre 1992 e 1996. É filiado ao PFL desde 2001. Elegeu-se deputado pela primeira vez em 2002. O PFL quer tomar uma rápida atitude contra o deputado. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), anunciou para hoje a reunião da Executiva. "É prioritária a manifestação pública do PFL sobre o caso à sociedade brasileira, providências enérgicas e imediatas a respeito do caso serão tomadas", afirmou. (Colaborou Henrique Gomes Batista)