Título: Perfil negociador destaca Marinho
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Política, p. A5

Ao chegar ontem em Brasília, véspera da sua posse como ministro do Trabalho, o metalúrgico Luiz Marinho repetiu, mais uma vez, que "atendeu a um chamado" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não foi a primeira vez. Foi também por desejo do velho amigo que Marinho lançou-se à disputa pela direção da Central Única dos Trabalhadores no mesmo ano em que Lula assumia a Presidência do Brasil. Oriundo da mesma base sindical de Lula, o novo ministro do Trabalho disse também ontem estar certo de que a experiência de mais de mais de 20 anos de relacionamento com o empresariado o credencia a se sair bem no cargo. Além disso, quer, entre outras coisas, perseguir a política de valorização do salário mínimo. Em 2002, Marinho foi candidato a vice na chapa de José Genoino, que disputou o governo de São Paulo. Ele poderia ter seguido carreira na política, seguindo a trajetória de tantos outros dirigentes sindicais, se Lula não tivesse demonstrado o desejo de vê-lo à frente da maior central sindical da América Latina. Foi assim que ele assumiu a presidência da CUT, em julho de 2003, depois dos dois mandatos na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Foi no sindicato que Marinho, hoje advogado com 46 anos de idade, despontou como sindicalista dos tempos de globalização. O movimento sindical habituado a agitar a indústria automobilística começou a perceber que emprego em multinacional passou a ser mais do que nunca uma disputa global. Dessa forma, as campanhas por avanços nos direitos dos trabalhadores começaram a ser substituídas por lutas em favor da manutenção dos próprios empregos e dos direitos adquiridos no passado. Foi nesse novo cenário que Luiz Marinho obteve acordos inéditos de estabilidade no emprego em duas das maiores montadoras do Brasil - Ford e Volkswagen. Em meio a impasses nas negociações com as direções das duas empresas no Brasil, Marinho decidiu ir negociar com as matrizes. No início de 2001, foi a Detroit, EUA, sede da Ford, e fechou acordo de estabilidade de cinco anos para os operários da fábrica de São Bernardo. Meses depois, no mesmo ano, viajou até Wolfsburg, na Alemanha, e conseguiu acordo parecido para os empregados da Volks também em São Bernardo. O freio nas demissões perdura até hoje: os dois acordos de estabilidade se encerram em 2006. O dirigente sindical, que trocou a lavoura em Cosmorama, cidade paulista onde nasceu, pela pintura em automóveis na Volkswagen em 1978, sempre teve um comportamento calmo, elegante e discreto. Ele próprio se auto define como sindicalista de um tempo em que "não basta fazer um discurso bravo". O perfil manso nunca o livrou, porém, dos inimigos e de forte oposição dentro da própria base. Focos de correntes das alas mais radicais da CUT atuam, inclusive, dentro da Volkswagen, onde Marinho foi funcionário. A oposição à Articulação, corrente de Marinho e Lula. ganhou ainda mais força depois da posse de Lula e tem forte presença na CUT. Marinho e seu sucessor no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José López Feijóo, se acostumaram até às vaias da oposição durante discursos nos portões da Volks. Na presidência da CUT, Marinho fez algum barulho para protestar contra a política econômica do governo. Recentemente, lançou uma proposta para nova composição do Conselho Monetário Nacional (CMN ), que previa aumento do número de membros dos atuais três para dez. Desses, cinco seriam do governo e cinco da sociedade. A mobilização ganhou adesão de empresários e do meio acadêmico. Entre as metas da mudança, Marinho apontava a necessidade de "sair da lógica do controle da inflação por meio de juros". Para ele, o formato do CMN de inibia investimentos e crescimento. Em seus discursos como sindicalista, Marinho pregou que o país precisava "mais do que metas de inflação e recordes de arrecadação". Nessas situações, o então dirigente da CUT defendeu "o desenvolvimento a partir da valorização do trabalho formal e do crescimento por meio da produção". Ele também levantou as bandeiras de aumento do salário médio e da massa salarial, distribuição de renda e geração de emprego. No comando da CUT, Marinho também foi defensor do pluralismo sindical e da liberdade de os assalariados se organizarem nos no local de trabalho. Nesse processo, o dirigente defendeu a negociação coletiva, com os contratos de trabalho nacionais ou estaduais por atividade, a exemplo do que acontece com os metalúrgicos da Alemanha ou Estados Unidos, que pertencem a uma única entidade. E mais recentemente, o então presidente da CUT levantou a bandeira contrária à flexibilização dos direitos trabalhistas. Luiz Marinho começou a trabalhar como metalúrgico em 1978. Em 1984, foi eleito tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Nas gestões seguintes, foi secretário-geral e vice-presidente, até se tornar o presidente da entidade, de 1996 a 2003, quando, então, assumiu a CUT.