Título: PT deve ter gesto exemplar, diz Lula ao receber apoio de sindicalistas
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Política, p. A5

Em uma declaração de guerra contra os que querem "desestabilizar" o governo, sindicalistas fizeram ontem uma manifestação de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vive um momento de grave crise política depois das denúncias de corrupção contra o governo e o PT. A audiência, com quase mil sindicalistas no Palácio do Planalto, foi organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), cujo presidente, Luiz Marinho, toma posse hoje como ministro do Trabalho, e pelo governo, segundo nota de centrais ausentes. Com este tipo de manifestação, assessores do presidente pretendem combater a percepção da opinião pública, apontada em pesquisas, de que o presidente sabia das irregularidades. "Não ousem tentar derrubar um operário da Presidência da República. Os trabalhadores vão reagir. Vamos batalhar pela reeleição para o governo terminar o que ainda precisa ser feito", declarou o representante da CUT Wagner Gomes. "Estamos na trincheira junto contigo, Lula", avisou o representante da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Antônio Carlos dos Reis, o Salim, aplaudido de pé com gritos de "Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo". "A crise está centrada numa mídia burguesa que não se conforma com a vitória de um operário", disse o presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Antônio Neto. O presidente Lula agradeceu o "gesto de solidariedade" e reiterou que o governo segue "implacável" na apuração de todas as denúncias de irregularidades na administração pública. Ele disse que agora cabe ao PT dar o bom exemplo. "O PT deve ter um gesto exemplar de não ter medo de investigar sua própria casa. Se alguém no partido cometeu um erro, tem que pagar." Mas nem todas as centrais sindicais engrossaram o coro da CUT. A Força Sindical, a Social Democracia Sindical e a Central Autônoma dos Trabalhadores divulgaram nota explicando que rejeitaram participar do encontro para não fazer parte da "farsa de apenas aplaudir e fazer claque para o discurso do presidente". E revelaram que o encontro foi organizado também pelo governo: "Os sindicalistas não aceitaram os termos impostos por membros do governo e da CUT de não criticar a economia e falar com insistência durante a audiência e para a imprensa que acreditam na inocência do presidente", diz a nota. Dos sindicalistas que foram ao Palácio, Lula recebeu até mesmo um kit dos baianos contra "coisa feita", com sabonete de arruda e sal grosso, carranca de São Francisco, figa Oxum e fita do Nosso Senhor do Bonfim. Durante a audiência, as críticas dos sindicalistas à política econômica foram discretas e praticamente se limitaram a uma carta entregue a Lula onde eles pediram mudanças na economia com redução na taxa de juros. Ao discursar, Lula ressaltou que quem o conhece há mais de 30 anos sabe que ele nunca brincou em serviço quando o assunto é corrupção. "Não importa que seja um amigo ou um adversário, não importa que seja o meu partido, ou outro partido, não importa se é o meu sindicato ou outro sindicato qualquer". Ele avaliou que apesar de o momento ser ruim do ponto de vista político, é uma fase importante não só para consolidar a democracia, mas para provar que é possível "extirpar" a corrupção da vida nacional. "Eu gostaria que vocês voltassem para casa com a certeza de que não haverá, da nossa parte, nenhuma precipitação, nem para inocentar e nem para condenar", ressaltou. "Como eu já fui, durante muito tempo perseguido neste país, eu não quero carregar nas minhas costas a marca de que eu persegui alguém. Não perseguirei uma única pessoa". Lula acrescentou que, no meio do caminho, sempre tem alguém que pode cometer desvios, e que isso pode ocorrer na própria família. E contou que, dia desses, ligou para prestar solidariedade ao Pelé pelo envolvimento do filho dele com tráfico de drogas. "Para quem é pai, sabe o quanto é importante a gente estender a mão e dizer: companheiro, nessa eu estou solidário a você. Nós temos que ser solidários na dor de um companheiro".