Título: Pregões, aliviados, retomam viés positivo
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Finanças, p. C2

O mercado financeiro continua operando um dia de cada vez, sem tentar adivinhar o desfecho da crise política. Os rumores de sexta-feira, de que surgiriam denúncias no fim de semana implicando diretamente o presidente Lula, não se confirmaram. Aliviado, o mercado se concentrou nas boas notícias econômicas do dia, reduziu a cautela e retomou as tendências primárias anteriores à turbulência política. Após cinco quedas, a Bovespa avançou 2,43%, com o índice a 25.015 pontos. O dólar caiu 1,43%, para R$ 2,3410. Foi a terceira queda consecutiva. E os juros cederam no mercado futuro da BM&F. O tom positivo dos negócios derivou de notícias em três áreas: a redução nas expectativas de inflação do mercado, a ampliação do superávit semanal da balança comercial e a queda no preço do petróleo. Os bancos que alimentam de previsões o Boletim Focus do Banco Central diminuíram de 5,94% para 5,72% o prognóstico de IPCA para 2005, já muito perto da meta central de inflação para o ano, de 5,1%, e bem distante do teto de 7%. O comércio exterior mostrou saldo positivo de US$ 1,33 bilhão na semana passada, o maior da história. E o petróleo caiu US$ 0,63 em Nova York, para US$ 59,00, já que o furacão Dennis não provocou os estragos que se temia em refinarias Se o ruído político não se intensificar, o mercado de câmbio deverá testar ainda hoje o piso do ano, os R$ 2,3340 marcados no final de junho. A tendência é de o dólar afundar até R$ 2,20, antes de começar a subir como reflexo do declínio esperado na taxa Selic e das compras de fim de ano. O fluxo de moeda é contínuo, de todas as frentes, e os operadores não notam uma maior atividade de compra por parte do Banco do Brasil. O Tesouro já divulgou sua intenção de adquirir US$ 8 bilhões até o final do ano, mas, por enquanto, o BB ainda não se mexeu. Enquanto isso, a oferta de dólares provém fartamente de exportadores de commodities agrícolas, de captações externas e de investidores estrangeiros interessados em aproveitar os últimos meses de Selic a 13% reais. Ontem, entraram no país US$ 150 milhões pela modalidade Non-Deliverable Forward (NDF), operação de venda de dólares no mercado futuro.

Farta oferta derruba dólar para R$ 2,3410

A queda do petróleo ajuda a desmanchar a teoria de que o juro básico teria de permanecer por mais tempo no atual patamar de 19,75% para amordaçar preços antes de inevitáveis reajustes de combustíveis. De resto, o mercado sabe que, na verdade, o Copom não precisará de pretexto para manter o congelamento da taxa por longos meses. E não teme um afrouxamento monetário em decorrência de supostas pressões da nova direção petista. A análise de que o novo presidente do PT. Tarso Genro, poderá opor-se ao conservadorismo da área econômica não preocupa o mercado. Pressões do mesmo tipo surgidas no passado foram respondidas com um reforço da ortodoxia. Os dados econômicos autorizariam o início da trajetória de queda da Selic já na semana que vem. Mas o pregão de DI futuro sustenta que a taxa só irá recuar 0,25 ponto percentual na reunião de setembro do Copom. As baixas sofridas ontem nos contratos referentes a 2005 foram tímidas. Para a virada do mês, o CDI recuou de 19,74% para 19,73%. Para a virada do ano, o contrato cedeu de 19,17% para 19,15%.