Título: Dólar e juros freiam resultados
Autor: Carolina Mandl e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Finanças, p. C8

Balanços Desaceleração no segundo trimestre será maior para exportações e bens de consumo

Os efeitos da valorização do real e da alta dos juros devem aparecer bem nítidos nos resultados das companhias abertas no segundo trimestre. Analistas ouvidos pelo Valor afirmam que os resultados líquidos das empresas exportadoras e de bens de consumo devem crescer frente ao ano passado, mas em ritmo inferior ao que foi apresentado até o início de 2005. "Isso indica uma perda de dinâmica da economia", afirma Ricardo Kobayashi, chefe de pesquisa do banco Pactual. Com a valorização do real, a rentabilidade das exportações diminuiu, o que deve afetar o resultado das empresas com grandes volumes de vendas externas. Isso já aparece no balanço da Aracruz, o primeiro divulgado da safra do segundo trimestre. Apesar da queda do dólar, as exportações brasileiras seguem crescendo. Desde o início do ano, as vendas externas subiram 23,7%, para US$ 57 bilhões. "A demanda internacional continua forte, e as empresas perceberam que não podem deixar de vender para não perder mercado, ainda que isso represente uma margem menor", diz o chefe de pesquisa de ações da Ágora Sênior, Marco Melo. Outra explicação para a manutenção ou até crescimento das exportações, segundo Ricardo Cavalheiro, estrategista do Santander, é que outras moedas também se valorizaram frente ao dólar, o que reduziu a perda de competitividade brasileira. A exceção, segundo analistas, deve ficar com os setores de mineração e petróleo. Embora sejam bastante dependentes das exportações, eles se beneficiaram do aumento de preço. Esse será o primeiro trimestre em que a Vale do Rio Doce terá o impacto integral do reajuste de mais de 70% aplicado ao minério de ferro em fevereiro. O Santander projeta um crescimento de 45% na margem líquida das mineradoras. Para a Petrobras, o ganho vem da alta mundial da cotação do petróleo. Só não será maior porque a estatal ainda não repassou o aumento a todos os seus produtos. Mas, para a maioria dos setores, a situação é inversa. Além da queda do dólar, as siderúrgicas enfrentam um cenário de queda dos preços do aço. "Há um nível anormal de estoques nos Estados Unidos e na Europa", diz José Cataldo, chefe de pesquisa da corretora ABN Amro. O efeito positivo da valorização do real deve aparecer apenas para as empresas que têm dívidas em dólar não protegidas por operações de hedge, que são a minoria. É o caso da Sabesp e da Embratel. "Em todos os setores, de uma maneira geral, as companhias estão menos alavancadas em moeda estrangeira", explica Kobayashi. Para quem depende do mercado interno, como varejo e fabricantes de bens de consumo, os juros em patamar elevado devem aparecer como o principal freio dos resultados. "Descontada a inflação, não houve alta muito significativa de venda", afirma Cavalheiro. Ele projeta crescimento nominal de 10% na receita do setor. Os destaques devem ser pontuais e atrelados à situação específica de cada empresa. Os analistas ressaltam a AmBev - favorecida pelo calor fora de época e pelo ganho de mercado -, a Natura - pelo aumento da força de vendas - e o Submarino - por estar em um setor ainda em desenvolvimento no Brasil. Apesar da desaceleração da economia, os segmentos de infra-estrutura apresentarão bons resultados. Além do reajuste de tarifas garantido em contrato, as empresas de energia e de telecomunicações estão menos endividadas. No setor elétrico, os analistas projetam um aumento de cerca de 5% no consumo, o que deve elevar a lucratividade. O Santander prevê resultados 60% maiores para as elétricas. Na telefonia fixa, a demanda por banda larga deve ter efeito positivo nos balanços das operadoras. Entretanto a competição acirrada deve prejudicar a rentabilidade das empresas de celular. O desempenho das empresas no terceiro trimestre ainda não é claro para os analistas. "A expectativa de queda dos juros já pode beneficiar o varejo e as fabricantes de bens de consumo", diz Tania Chocolat, analista do Unibanco. Também pode beneficiar companhias ligadas a esses dois setores a migração do consumo dos bens duráveis para os não-duráveis. "Até agora, as pessoas consumiram mais carros e eletrodomésticos. Depois que elas se abastecerem, as compras de roupas e alimentos deve crescer", diz Chocolat. No entanto, a maior incerteza fica por conta da proporção que a crise política poderá atingir. "Se prevalecer a imagem de crise institucional e não pontual, pode haver impacto em investimentos", diz Roger Oey, analista do Banif.