Título: Real forte leva Aracruz a lucro recorde
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2005, Empresas, p. B2

A fabricante de celulose Aracruz registrou no trimestre o maior ganho líquido de sua história, surpreendendo a previsão de analistas do mercado. A valorização do real frente ao dólar teve um impacto maior que o esperado e a companhia chegou a um lucro de R$ 492,9 milhões no segundo trimestre, com alta de 283% sobre igual período do ano passado (R$ 128,8 milhões). Neste ano, a Aracruz acumula ganho de R$ 693 milhões, correspondendo a 65% do resultado obtido ao longo do ano passado (R$ 1,07 bilhão). "Todas as empresas que têm dívida em dólar vão mostrar resultados favoráveis neste trimestre", anunciou o vice-presidente financeiro da Aracruz, Isac Zagury, ao Valor. A empresa é a primeira companhia aberta a divulgar os resultados financeiros do segundo trimestre. Em seu setor, a Votorantim Celulose e Papel (VCP) é a próxima a anunciar o balanço do segundo trimestre, marcado para o dia 18. Na comparação com o segundo trimestre de 2004, o real se valorizou 18,7% em relação ao dólar. Como as obrigações financeiras da Aracruz são cotadas em dólar, a valorização do real gera resultados positivos às contas da empresa, o que significa que a dívida paga em reais diminui. Neste trimestre, a variação cambial da Aracruz foi positiva em R$ 370,6 milhões, diante de um efeito negativo de R$ 189,6 milhões no segundo trimestre do ano passado. Com isso, a dívida líquida da Aracruz foi reduzida. Ao fim de 30 de junho, o endividamento caiu R$ 235 milhões e ficou em R$ 2,7 bilhões, ajudada também pelo uso de recursos gerados pelo caixa. Zagury não espera no terceiro trimestre resultados tão favoráveis por conta do efeito cambial. "A expectativa é que o real fique estável, sem perspectivas de nova apreciação", disse. Do lado operacional, as vendas físicas de celulose subiram 6%, alcançando 615 mil toneladas, mas o "real forte" eliminou parte do ganho. A receita líquida recuou 9%, para R$ 812,5 milhões no trimestre. Embora tenha subido 7% no início do segundo trimestre, o valor da tonelada de celulose exportada pela companhia em dólares sofreu também o impacto da valorização do real. A geração operacional de caixa caiu 10%, para R$ 430,4 milhões. A produção de celulose da Aracruz cresceu 3% sobre 2004 e atingiu 648 mil toneladas. A fábrica da Veracel, empresa que tem a Aracruz e a Stora Enso como sócias e cuja operação começou no fim de maio, respondeu com mais 30 mil toneladas de celulose, o que fez a produção total da Aracruz subir 7%. "A Veracel vai atingir facilmente a meta de 360 mil toneladas neste ano", disse Zagury. A Aracruz deve recompor seus estoques, com a parte da produção da Veracel, além de uma parada programada de 20 dias de sua fábrica no Espírito Santo. A empresa avalia que os preços da celulose vão se manter estáveis no mercado internacional. "Paradas no Chile, locaute na Finlândia, menor demanda na China vão equilibrar o balanço entre demanda e oferta", disse o executivo. "Se não houvesse esses problemas, a tendência seria de queda dos preços." Por outro lado, ele também não vê alta nas cotações. "Os chineses devem voltar às compras só a partir de setembro".