Título: Deflação perde força no atacado e no varejo com alta localizada em agrícolas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2005, Brasil, p. A3
A deflação nos preços do atacado já é menos intensa nesse começo de julho. A primeira prévia do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) deste mês ficou negativa em 0,09%, acima da deflação de 0,3% de junho. O resultado foi influenciado pela queda menor dos preços do atacado, tanto dos produtos agrícolas, que cederam 0,24%, ante deflação de 1,81%, como dos industriais, que registraram taxa negativa de 0,23%, contra menos 0,45% na primeira prévia do mês passado. Ao mesmo tempo, índices ao varejo apresentaram comportamentos distintos. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do IGP-M, que é medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), desacelerou de 0,08% para 0,02% na primeira medição de junho, influenciado principalmente pelo recuo de 0,65% nos alimentos e de 0,25% em transportes. Por outro lado, o IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da primeira quadrissemana de julho foi negativo em 0,13%, acima do menos 0,20% do fechamento de junho, mas abaixo do 0,19% da primeira medição daquele mês. No atacado, os preços dos alimentos passam por um processo de ajuste, após um choque de oferta positivo. A tendência é que eles parem de cair e deixem de contribuir para desacelerar o IGP como um todo. Há ainda a entressafra de alguns alimentos como carnes em geral, soja e milho que já começam a pressionar o atacado, lembra Salomão Quadros, coordenador da FGV. Os dois grãos, por exemplo, subiram 4,3% e 2,7%, respectivamente. O efeito do real apreciado frente ao dólar também já teve seu ponto máximo sobre o atacado, especialmente os industriais. Para Flávio Serrano, economista da Ágora Senior, o câmbio no patamar atual de R$ 2,3, R$ 2,4 não deverá puxar os preços para baixo - pois a alta do real tem sido cada vez menor -, mas reduzirá pressões inflacionárias no curto e médio prazo. Em abril e maio, o real se valorizou cerca de 5% ao mês. Em junho, a valorização foi de 2,3%. Até ontem, o real acumulava alta de 0,67% em julho. Um exemplo da atuação favorável do câmbio é no preço da gasolina, cuja defasagem sobre os preços externos fica menor com a valorização do real, e ajuda a evitar eventuais reajustes pela Petrobras, apesar da alta da cotação do petróleo no mercado internacional. No varejo, a expectativa é diferente. Os preços ainda devem refletir a baixa dos alimentos no atacado, além de menor pressão em despesas pessoais e saúde - após o fim do impacto do reajuste dos medicamentos. Para João Carlos Gomes, economista da Fecomercio do Rio de Janeiro, o movimento do IPC deixa claro o caminho da apreciação do real, que chegou primeiro no atacado e agora segue beneficiando a inflação ao consumidor. Já o IPC da Fipe ainda mostra deflação de 1,43% nos alimentos, mas captou taxa menor para transportes (de menos 0,11% em junho para 0%) e para o vestuário (de menos 0,16% para 0,18%).