Título: Denúncias de corrupção não abalam popularidade de Lula
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2005, Política, p. A4

Crise Mais de 45% de entrevistados em pesquisa acham que presidente ignorava mensalão

O escândalo de corrupção nos Correios e a denúncia do pagamento pelo PT de um mensalão aos deputados, feita pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), não afetou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte, feita pelo instituto Sensus. Pelo contrário: a aprovação do desempenho pessoal de Lula subiu de 57,4% em maio para 59,9%. A soma de avaliações boa e ótima de seu governo oscilou positivamente de 39,8% para 40,3%, estancando uma trajetória descendente que começou em dezembro do ano passado. Analisando a série histórica, o escândalo envolvendo o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, parece ter provocado mais efeito na imagem presidencial. Na ocasião, em março de 2004, a avaliação positiva do desempenho pessoal de Lula caiu de 65,3% para 59,6% e de seu governo desceu de 39,9% para 34,6%. Desde então, os índices têm se mantido relativamente estáveis, com uma recuperação da imagem do governo no segundo semestre do ano passado, quando voltou ao patamar de 40% de aprovação. "Se vocês ficaram surpresos, nós também ficamos", afirmou o presidente da CNT, Clésio Andrade, ao apresentar a pesquisa. Vice-governador de Minas Gerais, Andrade é do PL, o partido do vice-presidente José Alencar. Na avaliação do político e empresário, a própria oposição e os autores da denúncia colaboraram para o resultado, ao procurarem separar Lula do PT como culpados dos eventuais casos de corrupção. Andrade cita ainda "o bom desempenho da economia" como um dos fatores que estariam sustentando a avaliação favorável ao presidente. O resultado surpreende ainda porque a pesquisa mostra que aumentou a percepção de corrupção no governo petista. Em maio, 31,2% dos pesquisados afirmaram que as irregularidades cresceram no governo Lula. Nesta pesquisa, o índice passou de 40,3%. A sondagem foi desenvolvida entre os dias 5 e 7 de julho, época em que a grande maioria dos fatos comprometendo o governo já havia ocorrido. Excluídos da avaliação, apenas o assessor petista apanhado com dólares na cueca e a notícia da venda de uma empresa do filho do presidente para a Telemar. O grau de conhecimento da população da crise política é considerável. Somente 20,5% dos pesquisados afirmaram que não estão acompanhando o noticiário a respeito da CPI dos Correios. A mesma porcentagem se refere em relação ao mensalão. Em relação às denúncias de Jefferson, 67,1% dos entrevistados a consideram verdadeiras. Mas 45,7% dos pesquisados afirmam que o presidente Lula não teria conhecimento do mensalão, ante 33,6% que responderam que tinha conhecimento, dado que difere do divulgado na edição desta semana da revista "Veja", que apurou o inverso por meio de uma pesquisa do instituto Ipsos. A pergunta feita pelo Ipsos, contudo, não foi exatamente igual, e se referia a se o presidente tinha conhecimento dos escândalos de corrupção em geral. Do total, 39% afirmaram que Lula sabia, mas não fez nada, 16% que sabia e foi envolvido e 45% que não sabia. Diante da falta de impacto medida pelo Sensus dos escândalos na popularidade do governo, não houve alterações significativas nos cenários de 2006. Lula bate todos os rivais ainda no primeiro turno, exceto quando o candidato tucano é o prefeito de São Paulo, José Serra. Neste caso, o presidente obtém 37,1%, ante 19,1% do tucano, 9,8% de Garotinho (PMDB), 6,6% de Cesar Maia (PFL), 3,1% de Heloísa Helena (P-Sol) e 0,8% de Mangabeira Unger (PDT). Na simulação de segundo turno, a diferença entre Lula e Serra diminui. O presidente conseguia 49,7% em maio, ante 27,1% do tucano. Agora, Lula fica com 46,3% e Serra com 32,7%. Pela primeira vez, o Sensus mediu o índice de rejeição dos presidenciáveis de 2006. O resultado mostra que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é uma figura estigmatizada. Teve a maior rejeição, com 58,1% dos pesquisados afirmando que não votariam no tucano em hipótese alguma. O segundo mais rejeitado foi o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, com 57,9%. A rejeição de Lula foi de 30,8% e a de Serra, 42,4%. Os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas Gerais, Aécio Neves, ambos tucanos, ainda são beneficiados pelo pouco conhecimento do eleitorado. Enquanto apenas 3,6% dos pesquisados afirmam desconhecer José Serra, 20% dizem que não conhecem Alckmin e 23,8% fazem a mesma afirmação em relação a Aécio.