Título: Para presidente, classe operária chega 'madura' ao poder
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2005, Política, p. A5

Ao dar posse ontem ao novo ministro do Trabalho, o sindicalista Luiz Marinho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a avaliação de que a classe operária havia chegado ao governo de "forma sóbria e madura". Lula aconselhou o ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) a não se preocupar com as cobranças nem com as críticas da imprensa e reiterou que, no "jogo de governar", a paciência é fundamental. "Daqui a pouco você estará apanhando da imprensa, mas todos nós estamos calejados, preparados. Nós nunca tivemos momentos fáceis na vida. Eu não conheço um momento da minha vida em que uma conquista não foi às custas de sacrifício, com lágrimas, suor e sangue", observou. Ex-presidente da CUT, o novo ministro teve o cuidado de, no primeiro discurso, tranqüilizar as demais centrais sindicais afirmando que não será um ministro da CUT. "Vou representar no Ministério do Trabalho idéias propostas que procurei defender ao longo da minha militância sindical, mas com a compreensão de que o papel é completamente diferente", ressaltou Marinho. "O conjunto do movimento sindical poderá ter tranqüilidade de que não serei o presidente da CUT frente ao ministério, serei o ministro do governo Lula." Luiz Marinho é o terceiro sindicalista a assumir o cargo no governo Lula, depois de Ricardo Berzoini - que deixa o cargo para voltar à Câmara dos Deputados- e de Jaques Wagner, o primeiro a ocupar a função. Ao referir-se a Berzoini, Lula agradeceu antecipadamente pelo trabalho que ele vai prestar ao Partido dos Trabalhadores. "Eu não tenho dúvidas de que terei na Câmara um companheiro defensor do governo, mas uma tarefa mais importante é a tarefa de ser secretário-geral do PT neste momento histórico e decisivo para que a gente possa consolidar as estruturas da democracia brasileira", salientou. "Por isso estou dando os parabéns antecipados." Sobre o trabalho de Berzoini à frente dos Ministérios do Trabalho e da Previdência, Lula disse ainda que as pessoas nem sempre recebem o reconhecimento imediato "pelas coisas boas que fazem pelo país". No discurso, Lula fez questão de dizer que a passagem de sindicalistas pelo ministério mostrava que os trabalhadores brasileiros não devem nada "no âmbito do conhecimento, do preparo e de saber fazer as coisas, inclusive saber fazer política com P maiúsculo." "Marinho vai poder provar o que os outros já provaram: os trabalhadores brasileiros estão preparados para o que der e vier", salientou. Crítico da política econômica até assumir o cargo, Luiz Marinho afirmou que vai trabalhar em sintonia com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para construir um salário mínimo "decente" para o país, conforme compromisso do governo. "Devemos trabalhar por um processo permanente de valorização do mínimo como forma de distribuir renda no país, contrariando teses expressas em editoriais de jornais que alegam que o fato de defender um mínimo maior contraria a política econômica do governo. E o Palocci está aqui e sabe perfeitamente que não é assim", destacou o novo ministro do Trabalho. Com relação a Luiz Marinho, Lula elogiou sua capacidade negociadora e destacou o fato de que ele consegui estabelecer uma harmonia na CUT. "Não se preocupe com as cobranças, elas servem para alertar a gente de que é preciso fazer algo mais. Mas neste jogo de governar, a paciência é um elemento excepcional para consolidar aquilo que precisa ser feito no ministério do Trabalho", orientou Lula. (TC)