Título: PSDB recua de aproximação do governo
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2005, Política, p. A5

No dia em que a pesquisa CNT/Sensus constatou que a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece inalterada diante das denúncias de corrupção, a Executiva Nacional do PSDB decidiu não mais estender a mão ao governo, como já propuseram integrantes da legenda. Em reunião dos dirigentes do partido ontem em Brasília, que contou com a presença do prefeito de São Paulo, José Serra, os tucanos anunciaram que qualquer agenda política e econômica propositiva deve partir do governo, e não da oposição. Nesse contexto, o PSDB considera que a agenda prioritária é a investigação das denúncias na CPI Mista dos Correios. O PSDB só aceita discutir a alteração da emenda da reeleição se a iniciativa partir do Executivo. A direção do PSDB deu a seguinte orientação: não haverá condescendência do partido na CPI dos Correios caso as investigações esbarrem em Lula. "A iniciativa e proposta desta natureza (fim da reeleição) deve caber ao governo. Nossa concentração é na investigação. Não sou favorável a nenhuma mudança que altere regras do jogo. O governo é que tem que tomar a iniciativa de propor qualquer mudança mais importante. Aí o PSDB avalia", disse Serra. "A reeleição não tem sido experiência de sucesso. Cabe ao governo analisar e tomar a iniciativa quanto a esse assunto. Não há nenhum acordo entre PSDB e PT. Há um diálogo democrático", disse o senador Eduardo Azeredo (MG), presidente do partido. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que relata uma proposta de emenda constitucional sobre o tema, já anunciou aos colegas que vai defender o fim da reeleição só a partir de 2010. A intenção, inicialmente, era defender o fim da reeleição já em 2006, impedindo Lula de concorrer, desde que a iniciativa tivesse aval do PT. Os próprios tucanos chegaram à conclusão que tal atitude seria encarada como golpe. Os dirigentes do PSDB reconheceram que a blindagem a Lula feita pelos aliados, até o momento, tem sido eficiente. Por isso, vão concentrar todas as fichas na CPI e auxiliar os integrantes tucanos na comissão com assessores técnicos qualificados. O partido pode contratar consultores independentes. Os tucanos consideram que a velocidade das denúncias pode desgastar Lula naturalmente, aos poucos. Não há hipótese, segundo Serra, de o PSDB selar um acordo com o PT para proteger Lula. "Não vamos partir para uma perseguição insana a Lula, mas exigiremos a apuração de todos os fatos", definiu o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), membro da CPI. "Para nós, o prioritário é a investigação. Porque, do contrário, toda a classe política e todo o Congresso vão ficar comprometidos pela ação de alguns. É muito importante que todos os problemas venham à tona, que tudo seja investigado e que o governo coopere nesta direção", disse Serra. O secretário-geral do PSDB, deputado Bismarck Maia (CE), garantiu que os integrantes da CPI vão defender a apuração de todas as denúncias, evitando "leviandades de denúncias subjetivas". "Se os fatos chegarem a Lula, serão investigados. O PSDB será prudente para não ser leviano, mas não vai prevaricar", definiu o parlamentar. Os tucanos fizeram uma longa análise sobre a crise política na reunião de ontem e também sobre a reforma ministerial. Consideram que o governo continua errando nas composição com aliados. "A sensação que há é que está trocando seis por meia dúzia", disse Serra sobre as mudanças feitas por Lula. Para o presidente do PSDB, Lula deveria fazer uma reforma mais "adequada" neste momento de crise. "No caso do PMDB, praticamente não acrescenta nada de apoios porque o partido continua dividido", opinou. "As denúncias de corrupção são gravíssimas e apontam para uma rede de corrupção montada para favorecer um partido político (o PT) e um projeto de poder. Isso foi arquitetado por membros do PT, que se confundiu com o governo. O partido ajudava o governo. Agora, o governo tenta ajudar o PT com as mudanças ministeriais", analisou o secretário-geral.