Título: Vale quer manter participação e fazer investimento na Usiminas
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2005, Empresas, p. B1
Siderurgia Mineradora está disposta a apoiar com capital o seu projeto de expansão
A Cia. Vale do Rio Doce contrariando decisão anterior, manifestou interesse de permanecer com sua participação acionária na Usiminas. E foi além: está disposta a colocar mais dinheiro na siderúrgica mineira. A condição para que esse propósito seja concretizado, segundo afirmou o presidente da mineradora, Roger Agnelli, é a siderúrgica decidir pela construção do quarto alto-forno da usina de Ipatinga (MG), ampliando sua produção de aço bruto em até 2 milhões de toneladas ao ano. "Estamos conversando com todos os acionistas da Usiminas para que venham a investir mais", afirmou Agnelli, que acrescentou: "Se a Usiminas investir, estamos dispostos a ficar na empresa e também a pôr mais dinheiro na Usiminas para que ela faça um novo alto-forno, cresça e ganhe escala". A Vale tem participação de 23% no capital votante da Usiminas, sendo o maior acionistas individual da siderúrgica, mas não participa do bloco de controle, já tendo decidido, por essa razão, vender essa fatia. O bloco de controle da siderúrgica mineira, que tem 100% do capital da Cosipa, é integrado pela japonesa Nippon Usiminas (18,4%), Caixa dos Empregados (13,4%), grupo Camargo Corrêa (7,3%), grupo Votorantim (7,3%), Bradesco (1,9%) e distribuidoras de aço (2,3%). A mineradora vive um momento de tensão, esperando para o final deste mês decisões importantes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre questionamentos quanto às compras de mineradoras menores, quanto à sua participação na malha ferroviária do país e também quanto ao direito de preferência sobre a compra do excedente de minério de ferro da mina de Casa de Pedra, em Minas Gerais, pertencente à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A empresa tem sido acusada de monopolista e de estar com seu foco voltado apenas para o mercado externo. Após comemorar a conquista do grau de investimento ("investment grade") concedido na sexta-feira pela classificadora de risco Moody's à mineradora, Agnelli procurou mostrar que a Vale está empenhada na ampliação da siderurgia brasileira, mas que tem recebido pouco retorno desse esforço. "A pior coisa que tem é ficar parado. Acho que a siderurgia corre o risco de perder o pé dos investimentos", afirmou. De acordo com ele, até agora só a Siderúrgica de Tubarão (CST) respondeu positivamente aos esforços que a Vale e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vêm fazendo para estimular a ampliação do setor de aço. "A gente conversou com todos os nossos clientes brasileiros e o único que tomou a decisão de investir foi a CST", disse. Na época a Vale estava no bloco de controle da empresa e teve peso importante na decisão dessa expansão. No fim de 2004, concluiu a venda de suas ações para o grupo Arcelor e saiu. A CST está construindo seu terceiro auto-forno com o objetivo de aumentar de 5 milhões para 7,5 milhões a sua capacidade de produção de aço bruto, com investimento de US$ 1 bilhão. O novo alto-forno que pode vir a ser construído pela Usiminas em Ipatinga deverá custar US$ 800 milhões segundo avaliações da própria Usiminas, no início do ano. O estudo de viabilidade do projeto deverá ser apresentado ao conselho de administração da companhia em 24 de agosto. A mesma quantia a ser aplicada no novo alto-forno a siderúrgica planeja investir nos próximos três anos em outras obras, segundo informação do seu balanço do primeiro trimestre deste ano. Analistas ouvidos pelo Valor consideram que o investimento é modesto e que não justifica uma decisão da Vale de ficar na Usiminas como acionista minoritário apenas por isso. Para eles, o mais interessante para a mineradora é entrar em projetos nos quais ela tenha controle, mas a estratégia da Vale vem sendo a de negociar participações minoritárias em novas usinas siderúrgicas com o objetivo de ampliar o mercado para suas vendas de minério. A mineradora é a principal fornecedora de minério de ferro do mercado brasileiro e maior exportadora mundial do produto no mercado transoceânico. Há pelos menos quatro grandes novos projetos de usinas nos quais a Vale negocia parcerias com empresas internacionais (a coreana Posco, a chinesa Baosteel, a italiana Danielli aliada à sul-coreana Dongkuk e a alemã ThyssenKrupp) para produzir no país placas de aço para exportação. Até o começo da noite de ontem, a direção da Usiminas não quis se pronunciar sobre as declarações de Agnelli. A empresa, que concluiu neste ano a incorporação total da Cosipa, fechou 2004 com capacidade de produção de 9,5 milhões de toneladas de aço (inclui a Cosipa) e 55% do mercado interno de aços planos. No grupo Gerdau, dono a Açominas, que tem um projeto de duplicação da capacidade em curso, nenhum dirigente foi encontrado para confirmar se recebeu oferta da Vale para participação desse programa de expansão.