Título: Sem direito à prisão hospitalar
Autor: Alves, Renato; Araújo, Saulo
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2010, Cidades, p. 23

Caixa de Pandora

Submetido a dois exames no coração, Arruda deve ter alta hoje do Instituto de Cardiologia. Ele voltará à Polícia Federal

José Roberto Arruda passou a noite fora da Polícia Federal pela primeira vez desde que foi preso, em 11 de fevereiro. Ele foi submetido ontem a dois exames no coração, abalado por uma placa de gordura que obstrui parcialmente uma artéria, e deve ter alta na manhã de hoje. A defesa bem que tentou argumentar que o quadro de saúde de Arruda justificaria sua permanência no hospital. Os advogados deram entrada no Superior Tribunal Justiça a um pedido de prisão hospitalar. A solicitação, porém, foi negada. Com isso, depois de ser liberado pelos médicos, o ex-governador terá de voltar à sala de 16 metros quadrados no Complexo da PF, no Setor Policial Sul. Arruda chegou às 6h50 no Instituto de Cardiologia do DF (IC-DF), localizado no mesmo terreno do Hospital das Forças Armadas (HFA), entre o Sudoeste e o Cruzeiro. O primeiro exame foi um cateterismo, que comprovou a obstrução parcial de uma artéria que, segundo o médico particular do político, o cardiologista Brasil Caiado, estaria comprometendo a saúde de seu paciente. Apesar de recomendar uma série de cuidados para o tratamento da doença, Brasil informou que não há necessidade de o governador cassado ser submetido a procedimento cirúrgico, pelo menos por enquanto. O problema será tratado com medicamentos. Nos próximos 90 dias, Arruda deverá tomar oito comprimidos diariamente, sendo quatro para eliminar a gordura instalada na coronária, dois para controlar a pressão arterial e dois para a depressão. Ele já vinha fazendo o uso de antidepressivos, mas a dose foi aumentada. Depois de três meses, o governador deve ser submetido a outros exames.

Comida e exercícios O médico particular do ex-chefe do Executivo também lhe indicou a mudança nos hábitos alimentares e a prática regular de exercícios físicos, como caminhada, bicicleta ou natação. Preso há mais de um mês, ele tem direito a banho de sol por 15 minutos diariamente durante esse tempo, em geral, caminha pelo pátio da PF. O cardiologista chegou a afirmar que a recuperação seria mais eficaz se o paciente estivesse em casa. Vários fatores, como hipertensão, diabetes, sedentarismo e estresse, induzem a progressão dessa doença, que é uma das que mais mata no mundo. No ambiente em que ele se encontra hoje (preso na PF), o estresse é maior, disse Brasil. Além do pedido de prisão hospitalar, feito ontem, a defesa de Arruda protocolou na última terça-feira no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um pedido de prisão domiciliar para o ex-governador. A questão ainda não foi julgada. O cateterismo foi realizado pelo médico cardiologista do IC Leonardo Beck e um auxiliar, por volta das 7h. Um médico da PF acompanhou o procedimento, mas não interferiu, assim como Brasil. Fizemos de tudo para garantir a lisura dos procedimentos, afirmou Brasil. Segundo o cardiologista, Arruda deve receber alta médica hoje pela manhã, mas ele não soube precisar o horário. O repouso após a intervenção é importante para evitar sangramentos no vaso em que o cateter foi introduzido. De acordo com Caiado, ontem, Arruda estava muito abatido, mas mostrou-se tranquilo quando soube da notícia que seu problema não era tão grave como se imaginava. Ontem (quarta-feira) eu o achei muito entristecido. Cheguei a ficar impressionado com o seu estado. Estava profundamente abatido, relatou.

Músculo forte Além do cateterismo, Arruda foi submetido a um ecocardiografia com estresse farmacológico, que consiste em colocar o coração sob estresse por meio de drogas, como se o paciente estivesse praticando exercícios físicos, e analisar os batimentos cardíacos. O objetivo era descobrir se havia necessidade de fazer uma intervenção cirúrgica ou tratamento à base de medicamentos. A segunda opção prevaleceu. No diagnóstico do eco, os médicos concluíram que apesar da obstrução numa das artérias, a contratação dos músculos do coração de Arruda não havia sido prejudicada. Flávia Arruda, mulher do ex-governador, esteve com ele durante o dia e acompanhou a realização dos exames. Ela evitou falar com a imprensa e foi embora no fim da tarde. A pedido do advogado de Arruda, Nélio Machado, Brasil Caiado escreveu um relatório contando em detalhes a situação do paciente. O defensor chegou de táxi ao IC por volta das 14h30, acompanhado de dois homens. Ele evitou a imprensa e disse que sua visita era apenas de cortesia. Mais tarde, anexaria o documento médico à petição entregue à Justiça.