Título: PSB reage à demissão de Eduardo Campos e cobra diálogo com o governo
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2005, Política, p. A5

Repercutiu mal no PSB a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de substituir o deputado Eduardo Campos (PE) no Ministério de Ciência e Tecnologia por Sérgio Resende, presidente da Finep. A direção do partido considera que a troca não foi negociada e que não houve diálogo. Alguns parlamentares do partido consideram ainda que Lula só tomou a decisão por causa de pressão do PT. Eduardo Campos e Aldo Rebelo, também afastado do Ministério da Coordenação Política, eram dois ministros que atuavam diretamente nas articulações do Executivo com o Congresso, um espaço constantemente reivindicado pelo PT. Em reunião da Executiva Nacional do partido, realizada ontem, os dirigentes da legenda reiteraram o apoio ao presidente, mas prometem fazer a partir de agora duras reivindicações por mudanças na área econômica e vão exigir um mínimo de afinação política, em que todos os partidos da base aliada sejam consultados sobre mudanças de governo. Em nota divulgada ontem, o PSB rejeita apoiar qualquer iniciativa do governo em direção a política de déficit nominal zero, que vem sendo discutido no Executivo sob a coordenação do ex-ministro e deputado Delfim Netto (PP-RJ). "O PSB defende o aumento de investimentos em geral, sobretudo em infra-estrutura e naqueles segmentos com repercussão social. Defende negociações visando aumentar os investimentos públicos e se define contra a proposta de déficit nominal zero e qualquer ameaça às reservas constitucionais de recursos para a saúde, educação e ciência e tecnologia. Reafirma os valores do socialismo democrático e da esquerda brasileira, fundados na ética, na defesa incondicional do bem-público, na transparência dos atos administrativos e partidários", diz a nota. De acordo com o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), nenhum membro do partido propôs o rompimento com o governo. "Não vamos ser como ratos de porão de navio que abandonam o barco na hora em que começa a fazer água. Temos responsabilidades com o presidente Lula, mas vamos trabalhar para que o governo mude de comportamento, postura e conduta na política econômica", avisou o parlamentar. Ele disse ainda que o PSB vai exigir profunda apuração de todas as denúncias que estão surgindo: "Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém, seja do PT ou não". O vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), disse que o partido considera superado a saída de Eduardo Campos. "Resende é um quadro do partido e dará continuidade ao trabalho que fizemos na Ciência e Tecnologia", disse.