Título: PT cogitou contratar Marcos Valério em 2003, diz Pereira
Autor: Sergio L
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2005, Política, p. A8

O publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de coordenar o esquema de mensalão com pagamento irregular a políticos para garantir apoio ao governo no Congresso, chegou a ser cogitado para participar do planejamento de marketing e propaganda eleitoral das campanhas eleitorais do PT em 2003, informou o dirigente do PT Sílvio Pereira, um dos principais responsáveis pelas nomeações de altos funcionários no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em depoimento à Polícia Federal, na sexta-feira, Pereira confirmou ter participado de vários encontros com Marcos Valério, como havia informado a secretária do publicitário, Fernanda Karina Somaggio à CPI que apura o escândalo dos Correios. Valério não foi contratado porque a diretoria executiva do PT preferiu contratar nacionalmente o publicitário Duda Mendonça, disse o dirigente do partido à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. No mesmo dia, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares depôs para a Superintendência da PF em São Paulo e confirmou que Marcos Valério intermediou contatos entre dirigentes do PT com a Usiminas e o grupo Opportunity, e que foi apresentado pelo publicitário aos dirigentes dos bancos Rural e BMG, que concederam empréstimos de R$ 5,4 milhões ao PT - nos quais o próprio Valério serviu de avalista. A forte movimentação de recursos de empresas pelas contas das empresas de Marcos Valério leva integrantes da CPI dos Correios a cobrarem, com irritação, a liberação dos dados bancários e fiscais protegidos por sigilo legal. Hoje, o presidente da CPI, Delcídio Soares, irá ao Banco central para exigir pessoalmente a liberação dos dados. "Os movimentos das empresas pelas contas de Marcos Valério é muito maior que os contratos com as empresas dele", comentou o senador César Borges (PFL-BA). "Só com os dados permitidos pela quebra do sigilo temos como verificar de onde veio e para onde foi esse dinheiro". Sílvio Pereira confirmou participar das nomeações de cargos para o governo, e reconheceu ter tido encontros com executivo da Skymaster, empresa acusada de superfaturamento em contratos de transporte aéreo noturno com os Correios, e com o ex-Diretor de Tecnologia da ECT Eduardo Medeiros - acusado pelo líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra, em entrevista à revista "Veja", de ocupar o cargo para beneficiar empresários com contratos de informática na estatal. Segundo Silvio Pereira, um dirigente da Skymaster chamado Dumont pediu audiência a ele para se queixar de "problemas" com um funcionário dos Correios filiado ao PT, que estaria "criando dificuldades" para a empresa. Após encontro com Dumont no hotel Sofitel, em São Paulo, Pereira, segundo o depoimento à PF, teria sugerido ao dirigente da Skymaster que procurasse diretamente algum integrante do governo, porque as reclamações não diziam respeito a nenhum integrante do PT. Pereira confirmou que chegou a discutir com Fernando Bezerra a indicação de Ezequiel Ferreira de Souza, apadrinhado do senador, para a diretoria dos Correios ocupada por Eduardo Medeiros. Disse ainda ter se encontrado por duas vezes com Medeiros, a pedido do diretor dos Correios, mas que falaram apenas "amenidades". Sílvio Pereira afirmou que seus encontros com Marcos Valério se limitaram a 2003, durante a campanha eleitoral para as prefeituras, mas que o publicitário mantinha relacionamento próximo com Delúbio Soares. Segundo Delúbio, o encontro com o Opportunity intermediado por Valério foi realizado a pedido do empresário Carlos Rottenburgo, interessado em melhorar o relacionamento do grupo com o partido. Delúbio disse que o PT pretende pagar os empréstimos com o Banco Rural, que somarão, em agosto, R$ 6 milhões, e com o BMG, que já teve uma parcela de juros, de R$ 350 mil, vencida e paga por Valério.