Título: Lula se irrita com a proposta de fim da reeleição
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2005, Especial, p. A12

O fim da reeleição não faz parte da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a reforma política. A proposta partiu de setores do PSDB como uma fórmula para o presidente superar a crise política do governo. Em troca, Lula renunciaria ao projeto de disputar um segundo mandato em 2006. A reação de Lula, segundo interlocutores do presidente, teria sido de irritação com a proposta. Na reunião do novo ministério, ele inclusive teria encarado a idéia como uma espécie de desafio. Outras pessoas próximas ao presidente se limitam a dizer que a reeleição não é um item de sua agenda de reformas. Lula e ministros mais próximos ficaram entusiasmados com a última pesquisa CNT/Sensus, divulgada na terça-feira, na qual o índice de aprovação do presidente variou na margem de erro, em relação ao mês anterior. Além disso, a pesquisa revela que ele continua sendo forte candidato à reeleição. O único candidato com potencial para levar a eleição para o segundo turno é o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Alguns ministros chegam mesmo a afirmar que o pior já passou. E o que seria mais importante: as denúncias não teriam alcançado Lula. O maior atingido seria o PT. Diante disso - avaliam -, Lula teria espaço suficiente para concentrar seu governo em projetos prioritários, baixar as taxas de juros e chegar às eleições em condições efetivas de disputar um segundo mandato. Em Paris, onde se encontra acompanhando a comitiva do presidente Lula, o ministro da Educação e presidente do PT, Tarso Genro, atacou a proposta de se acabar com a reeleição já a partir de 2006. Genro é favorável ao fim da reeleição, mas considera que o projeto só pode ser discutido em relação ao sucessor do sucessor do presidente em exercício. "Defendi isso para o Fernando Henrique Cardoso", disse Tarso Genro. O primeiro a falar na possibilidade de Lula renunciar à disputa por um segundo mandato foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para FHC, seria uma forma de Lula sair da crise política, pois a desvincularia do processo eleitoral do próximo ano. Em seguida, setores do PSDB e do PFL passaram a defender a extinção da reeleição, desde que Lula concordasse em não disputar a reeleição. A proposta dividiu os próprios tucanos. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, posicionou-se de maneira contrária. Serra disse que era casuísmo e que o PSDB não deveria tomar nenhuma iniciativa nesse sentido - a menos que o próprio Lula fizesse a proposta. Lula manifestou-se em conversa com auxiliares próximos. Um deles ficou com a sensação de que o presidente se sentia "provocado": se em algum momento pensara em não disputar um segundo mandato, não renunciaria agora com a complacência dos tucanos. O incidente, de qualquer forma, não altera o humor de Lula em relação à idéia de tentar uma aproximação institucional mais consistente com a oposição. Nem mesmo um encontro com o ex-presidente FHC é descartado no Palácio do Planalto, embora tenha ficado mais difícil a curto prazo.