Título: Nordeste consome produtos mais caros
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2005, Empresas & Tecnologia, p. B6

Laticínios Produtores como a Nestlé e a Embaré investem em fábricas de queijos e bebidas lácteas na região

Responsável por cerca de 40% do consumo de leite em pó do País, o Nordeste começa agora a despertar a atenção dos laticínios para produtos mais caros, como como queijos, iogurtes bebidas lácteas e leite condensado, cuja demanda vem crescendo na região. A mineira Embaré e a multinacional Nestlé estão lançando produtos e implantando unidades industriais, dispostas a ampliar seu espaço no emergente mercado regional. Para enfrentar a nova concorrência, os laticínios locais, como Natural da Vaca e Ilpisa, também estão investindo em logística e ampliando a capacidade de produção. Os produtores locais contam com o poder de suas marcas, que são regionalmente fortes, para disputar mercado com os grandes laticínios, como a Nestlé, a Parmalat e Danone O primeiro passo foi dado pela Embaré. A empresa mineira, que também é uma tradicional fabricante de doces, só vende por enquanto produtos lácteos no Nordeste, que consome 100% da sua produção de leite em pó e manteiga. Segundo o diretor-superintendente do laticínio, Haroldo Antunes, a sua marca, a Camponesa, está entre as três mais vendidas no mercado nordestino. Com o aumento da demanda por produtos de maior valor agregado, a Embaré decidiu construir uma nova fábrica em Minas Gerais, na qual serão investidos R$ 52 milhões. A unidade terá capacidade para produzir até 3 mil toneladas de leite condensado e mil toneladas de bebidas lácteas. Também serão fabricadas cerca de 300 toneladas de creme de leite. A nova fábrica, que entrou em operação em junho, marcou o início da expansão da divisão de laticínios da Embaré para o restante do país. "A nova linha terá alcance nacional", afirma Antunes. A meta, acrescenta, é conquistar entre 6% e 8% do mercado nacional de leite condensado até o final de 2006. Os doces responderam só por 20% do faturamento da Embaré, de R$ 286 milhões em 2004. Para este ano, o laticínio espera faturar cerca de R$ 358 milhões. A empresa irá manter a mesma produção de leite em pó, cuja oferta já é insuficiente para atender todo a demanda no mercado nordestino. "O Nordeste é fundamental para a empresa", diz o superintendente da Embaré. Segundo ele, a Embaré também tem planos de ampliar a produção de leite em pó nos próximos dois anos. Os grandes laticínios, porém, colocaram o Nordeste no mapa dos seus investimentos. A gigante Nestlé deve construir uma fábrica em Pernambuco. Orçada em R$ 100 milhões, a nova unidade deverá produzir cafés, cereais e produtos lácteos. A Nestlé detém quase 30% do mercado nordestino de leite em pó. De acordo com técnicos que acompanharam as negociações entre a Nestlé e o governo do Estado para a concessão de incentivos fiscais, a fábrica deve começar a ser instalada ainda este ano. A Nestlé, por meio de sua assessoria de imprensa, não confirmou a implantação da unidade em Pernambuco. A empresa informou que realiza estudos e análises em diversos Estados. As empresas regionais também estão buscando fortalecer-se de maneira a enfrentar a concorrência. A alagoana Ilpisa, que atua no mercado com a marca Vale Dourado, diz que a meta agora é consolidar sua posição no segmento de leite longa vida, leite condensado, creme de leite e no repositor energético Tampico. "O maior problema não é a concorrência e sim o baixo crescimento econômico", responde o diretor da Ilpisa, Ricardo Sampaio. A marca Vale Dourado conseguiu em apenas 20 anos um feito marcante para a indústria de laticínios regional. A empresa alagoana é líder na venda de leite tipo longa vida e achocolatados, com uma fatia de 26% e 19%, respectivamente, quando consideradas as marcas isoladas. A Vale Dourado também é a terceira marca mais consumida de leite condensado no Nordeste e disputa com a Parmalat e a Danone o segmento de iogurtes. Embora diga que no momento não existem planos para ampliar as fábricas já existentes em Alagoas ou na Bahia, Sampaio afirma que a Ilpisa contratou uma consultoria especializada para elaborar um novo plano logístico. "Como não vamos investir em expansão estamos buscando otimizar nossa logística de distribuição e assim garantir o nosso espaço", afirma o executivo. Não tão conhecida com as concorrentes, a pernambucana Natural da Vaca está investindo R$ 12 milhões em uma fábrica. Até o momento a empresa adquire os produtos que comercializa - queijo e manteiga - de vários produtores de todo o País e os vende com sua marca. "Mas o ritmo de crescimento não possibilita mais este tipo de operação", diz o diretor de mercado, Breno Teixeira. Com a fábrica própria, a Natural da Vaca elevará o volume processado para 150 mil litros diários. Hoje, a empresa processa o equivalente a 40 mil litros de leite/dia. Além de queijos e manteiga, a Natural da Vaca irá produzir bebidas lácteas e iogurtes, requeijão, doces de leite, leite tipo B, ampliando seu leque de vendas. O início da operação da fábrica, localizada em Gravatá, no agreste pernambucano, deverá iniciar suas atividades em setembro. A expectativa é de que no espaço de um ano a unidade esteja trabalhando com 100% de sua capacidade. A fábrica vai permitir, ainda, o ingresso da marca junto ao pequeno varejo. Hoje a empresa está presente apenas nos grandes varejistas com presença na Região. Os novos investimentos têm levado os produtores de leite a trabalharem com boas perspectivas a curto prazo. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de Pernambuco (Sindileite/PE), Albérico Bezerra, a expectativa é de que a produção de leite no Estado cresça entre 20% e 30% com os novas instalações industriais. A estimativa atual é de que a produção estadual chegue a 1,3 milhão de litros/dia. Bezerra diz, também, que as vendas feitas pelos produtores pernambucanos para estados vizinhos devem ser reduzidas em função da demanda aquecida. "Pernambuco exporta hoje, em média, cerca de 250 mil litros diários. Com o aumento da produção industrial local este volume deve ser reduzido, o que representa em mais valor agregado para o produtor da bacia leiteira estadual", observa. O Sindileite estima que existam cerca de 25 mil produtores de leite em Pernambuco.