Título: Presidente indicará substituto na Abin
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2005, Política, p. A7

O diretor-geral-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), José Milton Campana, assumiu interinamente o comando do órgão até a escolha pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva do substituto definitivo do delegado Mauro Marcelo, que deixou o cargo na quarta-feira à noite depois de críticas à CPI dos Correios. O nome do novo diretor-geral só será definido com a volta do presidente ao Brasil, no sábado. Lula está na França, onde foi informado da repercussão do caso e determinou a saída de Mauro Marcelo, que estava no cargo havia um ano. Milton Campana é funcionário de carreira e ocupa a função de adjunto desde a posse de Mauro Marcelo. Em mensagem interna a servidores da Abin, do dia 6 de julho, Mauro Marcelo chamou os integrantes da CPI de "bestas-feras em pleno picadeiro", numa crítica à forma como a comissão colheu o depoimento de Edgard Lange, agente do órgão. Na madrugada de ontem - depois do pedido de demissão de Mauro Marcelo aceito pelo presidente em exercício José Alencar - a Abin divulgou nota esclarecendo que a convocação do agente para depor na CPI constituiu fato inusitado na história da atividade de inteligência no Brasil e "chocou" todos os profissionais da área. "Profissionais de inteligência, ao desempenharem suas atividades em defesa dos interesses do Estado necessitam ter a garantia de que suas identidades sejam preservadas do conhecimento geral", diz a nota redigida por Mauro Marcelo. "A exposição ao público de Edgar Lange, da forma que foi feita, causou grande comoção interna, chocando todos os profissionais de inteligência." A Abin alega que Mauro Marcelo redigiu a nota de circulação interna para se solidarizar com os servidores, "procurando elevar o moral e criar fator de aglutinamento de forças com o propósito de restabelecer, o mais rapidamente possível, o equilíbrio interno." Quando depôs, Lange pediu que seu depoimento fosse fechado ao público, ou então que falasse vestindo um capuz, mas os parlamentares não o atenderam. Na nota de ontem, Mauro Marcelo voltou a dizer que, ao usar a expressão "bestas- feras", a utilizou no sentido figurado de desumano, buscando ilustrar a situação vivida pelo servidor que ficou exposto pela mídia, sem que se considerasse a sua condição funcional e, nesse sentido, usou a expressão "no picadeiro". Depois de indicado pelo presidente Lula, o novo diretor terá de passar por uma sabatina na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado e o parecer do relator vai à votação no plenário.