Título: Cai o ritmo das vendas de algodão
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2005, Agronegócios, p. B11

Mercado Comercialização da safra 2004/05 está lenta, mas já há negócios envolvendo 2005/06

A combinação entre baixos preços nos mercados doméstico e externo com a apreciação do real em relação ao dólar tem reduzido o ritmo da comercialização do algodão em pluma produzido no país na safra 2004/05. Da produção total estimada em 1,3 milhão de toneladas, cerca de 50% já está contratada, 15% menos do que na mesma época do ciclo passado. Levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) com base nos contratos negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) mostra que foram comprometidas, até o dia 30 de junho, 604 mil toneladas de algodão, ou 46% de uma produção total estimada para 2004/05. No mesmo período de 2004, 722 mil toneladas, ou 55% da produção total estimada para a temporada 2003/04 (1,309 milhão de toneladas), já estavam comprometidas. Para o algodão já contratado, o principal destino é o mercado externo. Até o dia 30 de junho, 331 mil toneladas foram contratadas para exportação, das quais 200 mil produzidas no Estado do Mato Grosso. "No ano passado, sobretudo no primeiro semestre, as cotações do algodão no mercado internacional estavam boas ", observa Djalma Fernandes de Aquino, analista de algodão da Conab. Neste ano, o cenário para os preços está baixista, sobretudo no mercado interno, que está em plena colheita. O índice Cepea/Esalq para o algodão, cotado ontem a R$ 1,2149 a libra-peso, acumula desvalorização de 22,6% nos últimos 12 meses. Na bolsa de Nova York, os preços futuros também interromperam o ciclo de valorização. Em 12 meses, os preços acumulam aumento de 9%. Neste mês de julho, os preços já recuaram 4,8%. "O produtor brasileiro parou de vender", afirma Marco Antonio Aloísio, gerente de trader da Esteve, uma das principais tradings comercializadoras da pluma no país. O levantamento de comercialização da Esteve está em linha com os volumes apontados pela Conab. As indústrias têxteis também apostam em novas quedas de preços e evitam fazer compras, afirma Adriano Vendeth, da All Cotton, cooperativa de produtores de algodão de Goiás. "Os mecanismos de Prêmio de Escoamento do Produto [PEP] e Prêmio de Risco de Opção Privada [PROP] estão dando mais fôlego para o produtor segurar sua produção", diz Vendeth. A colheita da safra 2004/05 deverá se encerrar em agosto, mas ainda há indefinições sobre a intenção plantio da safra futura, a 2005/06. No entanto, mesmo com essa falta de perspectivas, os produtores já comprometeram 238 mil toneladas da safra nova, das quais 193 mil toneladas serão destinadas ao mercado externo. Se por um lado a queda do dólar compromete o ritmo das negociações, por outro poderá beneficiar os produtores. "Os custos com o plantio da nova safra poderão cair, uma vez que os insumos são cotados em dólar", afirma Aquino. A expectativa é de que os fundamentos de mercado influenciem positivamente os preços do algodão a partir da safra 2005/06. "Há uma perspectiva de que a China aumente os volumes de importação de algodão na safra 2005/06, por conta dos problemas climáticos sobre as lavouras, e que os produtores dos Estados Unidos reduzam a área plantada para a nova safra", afirma Aquino.