Título: Fronteira entre Brasil e Argentina vira palco de briga comercial de arrozeiros
Autor: Paulo Braga e Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2005, Agronegócios, p. B12

Após 77 dias de barreira no porto de Itaqui (RS) para impedir a entrada de arroz vindo da Argentina - e que foi desmontada na noite de quarta-feira atendendo a uma ordem judicial - arrozeiros do Rio Grande do Sul decidiram fechar outras fronteiras secas utilizadas para a entrada de cereal do Mercosul. Do lado argentino, produtores fecharam quinta-feira (dia 14) a entrada do Complexo Terminal de Cargas, em Paso de Los Libres, para impedir a entrada de qualquer produto brasileiro e querem fazer acordo para retomar a circulação de produtos entre os dois países. Pedro Alcântara Monteiro Neto, presidente do Sindicato Rural de Itaqui (RS), disse que os produtores vão continuar a vigília em Itaqui e pretendem armar novas barreiras nas estradas que fazem fronteira com a Argentina, a começar pela rodovia que liga Uruguaiana (RS) a Paso de Los Libres. Segundo fontes da Receita Federal, o bloqueio dos arrozeiros continua em Itaqui nas ruas próximas ao porto. Conforme Monteiro Neto, desde 28 de abril, produtores se revezam na fronteira para impedir a entrada de arroz pelo porto, que recebe por mês entre 300 e 400 caminhões com cereal vindos da Argentina. O setor reclama da queda nos preços internos por conta da entrada de arroz importado e falta de apoio do governo, que negou os pedidos de medida antidumping ou salvaguarda feitos ao Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento. O governo argentino propôs, quinta-feira, a realização de uma reunião entre os setores privados dos países para obter um acordo que ponha fim aos bloqueios. Em comunicado emitido pela chancelaria, as autoridades argentinas consideraram inválido o argumento de que as exportações de arroz do país vizinho estariam deprimindo os preços no Brasil. " A participação [argentina] no mercado de arroz brasileiro representa apenas 1,8% em relação ao volume produzido pelo Brasil, uma quantidade que de nenhuma maneira pode ter tal incidência sobre os preços. " O subsecretário de Integração Econômica, Eduardo Sigal, afirmou que o assunto é especialmente sensível devido à importância das exportações de arroz para algumas localidades. A produção de arroz argentina se concentra na província de Corrientes e no ano passado as exportações ao Brasil atingiram US$ 40 milhões. Francisco Signor, delegado federal do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul, disse que o Brasil leva vantagem no comércio com o vizinho do Mercosul e a briga precisa ser eqüacionada para evitar mais prejuízos ao país. Ele observou que do volume que circula nas fronteiras, 70% são exportações e 30%, importações. Paulo Morceli, analista de mercado da Conab, disse que os preços do arroz caíram 30% na safra (para R$ 21 por saca) devido à supersafra brasileira, de 13,3 milhões de toneladas para um consumo projetado de 12,9 milhões de toneladas.