Título: Consumo per capita de têxteis no país cresceu 25% em 15 anos, aponta estudo
Autor: Vanessa Barone
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2005, Brasil, p. A2

Ao longo dos últimos 15 anos, a cadeia têxtil passou por grandes transformações no Brasil, com aumento da participação dos produtos importados (seja como confecção, seja como fio ou tecido), queda relativa de preços e um ganho de produtividade por funcionário de 115%. O efeito prático foi um aumento de 25% no consumo médio por habitante entre 1990 e 2004. Essas e outras conclusões fazem parte do Brasil Têxtil 2005, estudo que traça um perfil de todos os segmentos da cadeia têxtil, da produção de fios à confecção da roupa, de 1990 em diante, elaborado pelo Instituto de Marketing Industrial (IEMI). Para o diretor do IEMI, Marcelo Prado, "a indústria têxtil deixou de olhar para si, está mais competitiva, atenta ao potencial de consumo das classes C, D e E, e está explorando outros mercados". O relatório traz o perfil de mais de 200 indústrias em operação no país que, juntas, faturam mais de R$ 20 bilhões por ano e empregam quase 230 mil empregados. O Brasil Têxtil 2005 indica que o crescimento de consumo per capita de mais de 25% nos últimos 15 anos foi, em parte, atendido pelos produtos importados. "Esse aumento aconteceu sobretudo entre as classes C, D e E, motivado pela queda da inflação", afirma o diretor do IEMI. O aumento de poder aquisitivo dessas classes, junto com o ganho de produtividade (que abriu espaço à queda de preços), deu impulso às empresas. Entre 1990 e 2004, a produção do setor têxtil aumentou 20% , um ritmo inferior ao do crescimento da população, resultando em uma queda da produção per capita de 1%. "Essa produção cresceu, sobretudo entre os artigos mais populares, como malhas para camisetas e roupas casuais", informa Prado. A indústria passou a olhar para as camadas menos favorecidas, que já haviam virado o alvo dos produtos chineses. Ainda assim, boa parte do aumento de consumo acabou abastecido pelos produtos importados populares, sobretudo os chineses. Entre 1990 e 2004, o crescimento das importações, em volume, foi de 353,6%. "Apesar do ganho de produtividade e de eficiência, nesses 15 anos, o grande desafio da indústria é aumentar a exportação de roupas prontas", afirma Prado. Segundo o IEMI, o maior inimigo do aumento das exportações é a fragmentação da produção do vestuário. O estudo demonstrou que, enquanto o número de unidades fabris de tecelagens caiu 69,8%, entre 1990 e 2004, o de confecções cresceu quase 24%. "Na produção de confeccionados, a terceirização do processo produtivo criou espaço para entrada de um grande número de novos pequenos produtores", diz o estudo. Isso dificulta a exportações, pois o confeccionista depende de vários fornecedores para terminar a produção. "Se porventura a empresa consegue fechar com um bom contrato internacional, muitas vezes tem de desistir do negócio por não ter como produzir a quantidade de peças encomendada", afirma Prado. Segundo o executivo, cerca de 70% do volume de roupas produzidas, no Brasil, atende apenas à demanda regional. "São empresas pequenas e médias que sequer têm capacidade para vender para o Estado vizinho, que dirá para o mercado externo", afirma Prado. "Para este ano, a expectativa é de crescimento da importação de 15%, no acumulado", diz Prado. Já para as exportações, a expectativa é não passar dos 5%, ainda assim, se o dólar subir aos R$ 2,80, nível considerado razoável para a indústria têxtil. "Aí poderemos voltar a competir pelo mercado externo", afirma o executivo.