Título: Delúbio acusará os outros partidos por uso de caixa 2 em campanhas
Autor: Juliano Basile, Thiago Vitale Jayme e Mauro Zanatt
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2005, Política, p. A6
O ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, deverá generalizar a denúncia de que existe caixa 2 no financiamento de campanhas em todos os outros partidos, além do PT. Em depoimento à CPI dos Correios, marcado para essa quarta-feira, Delúbio negará a existência do mensalão, mas confirmará o que disse ao Procurador Geral da República e, dependendo da inquirição que sofrer dos parlamentares, falará da existência de caixa 2 nos demais partidos. "Financiar campanhas por meio de caixa-dois, em princípio, é crime, sim", afirmou ontem ao Valor o advogado Arnaldo Malheiros Filho, que trabalha para o ex-tesoureiro do PT. "O problema é saber se quem está atirando a primeira pedra pode mesmo falar dos outros. Quem é que não tem caixa 2?", questionou Malheiros Filho, indicando a linha de defesa de Delúbio. Em entrevista ao Jornal Nacional, sábado, Delúbio confirmou a existência de "um fosso não contabilizado" nas campanhas eleitorais no Brasil. Este dinheiro não contabilizado nas campanhas seria utilizado por todos os partidos. O advogado acredita que seria difícil "pegar alguém" que não tem caixa-dois. "Quem é do ramo e vê as prestações de contas sabe que aquilo sempre passou por um acordo tácito entre os partidos." Malheiros Filho nega a existência de pagamentos de mesadas a parlamentares e o envolvimento do ex-tesoureiro no suposto esquema que mistura dinheiro público, empréstimo bancário e caixa 2 para financiamento de partidos e parlamentares da base aliada. "Da parte do PT, não existe o mensalão, corrupção ou uso de dinheiro público", ressaltou. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), integrante da CPI, pedirá à Justiça Eleitoral a condenação do PT por crime eleitoral em razão das alegações de Delúbio sobre a existência de caixa 2 no financiamento de campanhas do PT. De acordo com depoimento feito pelo ex-tesoureiro ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, boa parte do caixa 2 foi financiada pelos pelos empréstimos feitos pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Os empréstimos também serão questionados na CPI, mas essa linha de defesa também vai merecer processo: "O PT tornou-se réu confesso", afirmou Dias. "Está clara a ação de uma quadrilha." Segundo o senador, houve crime com dinheiro público porque o Marcos Valério emprestou ao PT com a "segurança de obter vantagens no governo". Dias ressaltou que o artigo 33 da Lei Eleitoral prevê desde detenção de cinco anos e a perda de mandato até a suspensão do registro do partido e o uso de recursos do fundo partidário. A estratégia de Delúbio é semelhante à do publicitário Marcos Valério. Ele também admitiu empréstimos privados ao PT para que o partido pudesse saldar dívidas eleitorais. Mas o deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG) acusa Valério de operar de outra forma. Ele conta que, em 1999, quando prefeito de Poços de Caldas, o empresário chegou a propor levantar fundos para a sua campanha, caso fosse disputar a reeleição no ano 2000. "Ele disse que eu não me preocuparia com nada, que ele faria tudo: bastava que eu lhe desse uma lista de fornecedores da prefeitura." "Estou convencido que Marcos Valério é um agenciador de campanhas, um lobista e um agenciador de influência política", afirmou ontem Geraldo Thadeu. Ele contou que conheceu Marcos Valério em 1999, quando a agência de publicidade que havia vencido a concorrência da prefeitura, a Feeling, foi comprada pelo empresário. "Fui apresentado a Marcos Valério, que se apresentou como ex-funcionário do Banco Central." O empresário, então, teria feito a ele a proposta de assumir a captação de dinheiro para sua campanha, caso fosse candidato à reeleição. Captaria doações dos fornecedores da prefeitura e as repassaria ao caixa de campanha de Geraldo Thadeu. "Sai de lá e disse: 'que diabos, parece tão fácil!', mas nunca mais falei com ele", disse o deputado. No depoimento de Marcos Valério à CPMI, o deputado, em sua intervenção, pediu que o empresário confessasse que arrecadava para o caixa 2 do PT junto aos fornecedores das estatais e repassava o dinheiro ao tesoureiro Delúbio Soares. Essa seria a lógica do esquema proposto a ele pelo próprio empresário, há seis anos. Valério negou que isso fosse verdade. O tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, afirmou também, em depoimento secreto à Corregedoria da Câmara, a versão de que Valério ajudava a legalizar doações de campanha para o PT. Ele disse que o publicitário arrecadava dinheiro de caixa 2 de empresários e depois o transferia ao partido, providenciando recibos para as doações ilegais