Título: Carimbo de qualidade
Autor: Mara Luquet
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2005, Eu & Investimento, p. D1

APetrobras, a maior empresa em valor de mercado da América Latina, volta ao mapa dos investimentos socialmente responsáveis. Os dois únicos fundos socialmente responsáveis do Brasil, o Ethical e o Itaú Excelência Social, já estão vendo a empresa com bons olhos. Isso porque a empresa, segundo os gestores desses fundos, fez importantes avanços na área de relação com o meio ambiente nos últimos anos. Esse esforço provocou reflexos também no preço da apólice do seguro (prêmio) das plataformas da empresa que teve uma redução significativa e caiu de US$ 46,4 milhões em 2002 para US$ 21,6 milhões este ano. Nos próximos meses, o gestor do Ethical (fundo do banco ABN Amro), Pedro Villani, apresentará ao Conselho do fundo um estudo detalhado mostrando os avanços da empresa no terreno da responsabilidade social, principalmente em questões ambientais, o ponto fraco da empresa. Villani quer que o Conselho o autorize a considerar a Petrobras como um potencial ativo para o fundo que administra. Juan Carlos Morales, gestor do Itaú Excelência Social, fundo criado em 2004, já colocou as ações da empresa de petróleo no mapa de suas potenciais aplicações desde o ano passado. Em 2001, ano do acidente com a plataforma P36, as ações da Petrobras foram banidas das carteiras dos fundos socialmente responsáveis por todo o mundo. Em algumas apresentações de gestores internacionais foram feitas duras críticas a política de relacionamento com o meio ambiente da empresa e a foto da plataforma P36 afundando percorreu o mundo ilustrando nessas apresentações o exemplo de uma empresa sem qualquer cuidado com o meio ambiente. Naquele mesmo ano, o ABN-Amro Real criava o fundo Ethical, a primeira carteira socialmente responsável do mercado brasileiro. A Petrobras estava no alvo de ambientalistas por conta dos sucessivos acidentes ocorridos nas plataformas da empresa. Por isso, o Ethical nunca teve ações da empresa em sua carteira. Pois, o relacionamento com o meio ambiente é um dos pilares do chamado investimento socialmente responsável. No entanto, Villani e Bruno Erbiste, o analista de investimentos socialmente responsáveis do ABN-Amro, estão convencidos de que a empresa fez importantes avanços e hoje mantém padrões de responsabilidade social em pé de igualdade com as melhores empresas do seu setor no mundo. "O grande problema da Petrobras sempre foram os vazamentos e eles começaram a cair violentamente já em 2002", diz Villani. No estudo que vai apresentar ao conselho do Ethical, Villani mostra que o índice de barril de óleo derramado sobre um milhão de barris de óleo produzidos que era de 34,4 em 2001 caiu para 3 em 2003 (os números mais recentes que ele dispõe). Em 2002 chegou a ser ainda mais baixo, de 2,3. No entanto, mesmo com o pequeno aumento observado, o analista Erbiste diz que a Petrobras só perde para duas empresas, a americana Marathon e a francesa Total. Outro ponto que chamou a atenção de Erbiste foi a redução de acidentes de trabalho. "Eles descobriram que grande parte dos acidentes de trabalho ocorria com funcionários terceirizados", diz. "Então eles fizeram um trabalho para reduzir a terceirização e melhorar a seleção de fornecedores de mão-de-obra", acrescenta o analista. Para Erbiste e Villani, o projeto Pegasus é o responsável pelos avanços no relacionamento com meio ambiente. O Projeto de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional (Pegasus) foi criado em 2000 e até 2004 recebeu investimentos de R$ 8 bilhões. Luiz Cesar Estano, coordenador de desenvolvimento sustentável da Petrobras, diz que o objetivo do projeto era colocar a empresa em linha com as empresas líderes no mundo em gestão ambiental. "O projeto deu ênfase na automatização, inspeção e recuperação de dutos, tratamento de resíduos e uso de recursos hídricos", diz Estano. O programa, segundo ele, promoveu uma auditoria em todas as áreas de risco e potenciais geradores de impactos ambientais. O Pegasus continua a receber investimentos da empresa, segundo Estano, mas agora ele é complementado pelo Programa de segurança de Processo. "O primeiro focou nos equipamentos, este segundo foca nas pessoas", diz. O objetivo agora é criar uma cultura de proteção ambiental e segurança de trabalho em todos os funcionários da empresa. "Não queremos reduzir os acidentes de trabalho, queremos simplesmente que eles não ocorram, isso é ter excelência", diz. A taxa de freqüência de acidentados com afastamento para cada milhão de homens/horas de trabalho também registra uma redução expressiva desde 2000. Naquele ano, o índice era de 3,6 trabalhadores acidentados para cada um milhão de homens/hora de trabalho. Em 2004 a taxa chegou a 1,04. A média internacional, segundo Estano, varia em torno de 1. "Para conseguir baixar agora este índice é necessário uma grande mudança cultural." A política com os prestadores de serviços também foi alvo de grandes mudanças. A partir deste ano as concorrências da Petrobras vão exigir que as empresas tenham políticas expressas de segurança de meio ambiente e saúde dos seus funcionários. "Essas empresas devem estar o mais próximo possível das práticas adotadas na Petrobras", diz. Este já era um cuidado que, segundo Estano, a empresa já vinha adotando há alguns anos, mas agora com a exigência formal deverá produzir resultados ainda melhores. "Há quatro anos o presidente da empresa faz uma reunião anual com os dirigentes das empresas que nos prestam serviço para estabelecer um compromisso de práticas de responsabilidade social", completa Estano.