Título: Com a volta do espectador, cinema vive seu final feliz
Autor: Carolina Mandl e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2005, Empresas, p. B1

Lazer Ingresso barato é compensado por publicidade e venda de comida

Nas filas dos cinemas, já não existem homens de terno e mulheres de chapéu, como era comum nos anos 40 e 50, mas os exibidores estão satisfeitos. Na contramão de outros segmentos de lazer, o mercado está crescendo no país, deixando definitivamente para trás o período em que salas viravam igrejas da noite para o dia. Desde meados da década de 90, quando as grandes redes desembarcaram no Brasil, o número de salas quase dobrou. E embora o circuito ainda esteja longe das cerca de 3 mil cinemas que existiam no fim dos anos 70, o número é significativo: são cerca de 2 mil salas. O público aumentou na mesma proporção e atingiu 114,7 milhões de pessoas em 2004, segundo a Filme B, empresa que pesquisa o mercado. Só o Cinemark, maior cadeia de cinemas do país, com 302 salas, obteve lucro líquido nominal de R$ 46 milhões no ano passado - o dobro da cifra de 2003. Foi o melhor resultado entre as empresas de entretenimento analisadas pelo Valor Data. A receita do grupo foi de R$ 268,3 milhões no último exercício. Apesar de não divulgar resultados, a rede brasileira Severiano Ribeiro, com 200 salas, diz que não tem do que reclamar. A receita vem crescendo 10% ao ano desde 1997, atingindo R$ 170 milhões em 2004. "Havia uma demanda muito reprimida no Brasil, que começou a ser suprida com a chegada das redes de cinema", afirma Luiz Gonzaga De Luca, diretor de relações institucionais da Severiano. Para as empresas, o baixo preço do ingresso em comparação com outras atividades explica porquê o cinema cresceu mais do que outros áreas de entretenimento. "Com exceção dos parques públicos, não existe uma atividade tão barata", afirma Marcelo Bertini, diretor financeiro do Cinemark. Na avaliação do executivo, outra vantagem é a flexibilidade que as redes de cinema têm para adequar seus projetos de expansão à demanda. "Você pode distribuir os investimentos ao longo do tempo. Um parque de diversão, por exemplo, não tem como fazer isso." O Cinemark investiu US$ 150 milhões desde que chegou ao país, em 1998. Curiosamente, não são apenas os filmes que fazem a alegria de espectadores e exibidores. Em muitos casos, para as redes a película sequer é a protagonista. "Cerca de 60% do lucro da Severiano vem das comidas e da publicidade vendida. Em muitos cinemas, a bilheteria dá prejuízo", diz De Luca. No mundo inteiro, os cinemas buscam o lucro fora das telas, explica o executivo. O preço do bilhete, que atrai o consumidor, é compensado pelas guloseimas. Como nos melhores dramas de Hollywood, em que sempre acontece algo para atrapalhar a vida dos personagens, na primeira metade deste ano o número de espectadores caiu 40% frente ao mesmo período de 2004. Mas as empresas atribuem a queda a um fator conjuntural - a falta de bons filmes - e apostam na retomada neste semestre. "Existe uma falta momentânea de produtos, que não altera nossos planos de investimento", diz Bertini, do Cinemark. Mesmo assim, a rede fez ajustes: negociou descontos com os fornecedores e cortou despesas em itens como energia. Mas não houve demissões. Como o público de cinema tanto gosta, é mais uma história de final feliz.