Título: "Falta de pelotas da Vale afeta nossa produção"
Autor: Ivo Ribeiro e Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2005, Empresas, p. B7

O empresário Benjamin Steinbruch, diretor-presidente da CSN (Cia. Siderúrgica Nacional), diz que sua empresa deixou de produzir 150 mil toneladas de aço no ano passado e outras 70 mil neste ano porque a Cia. Vale do Rio Doce não forneceu pelotas de minério de ferro. "Eles dizem que estão com a produção totalmente vendida ao exterior", explica. A Vale informou que tem atendido aos pedidos da CSN. Em 2003, foram pedidas e entregues 379 mil toneladas de pelotas; em 2004, 310 mil. "Neste ano, foram solicitadas 300 mil toneladas. Depois, a CSN ampliou o pedido em mais 70 mil toneladas. A empresa fez um esforço e vai atender essa demanda adicional", informou a assessoria de imprensa da Vale. Segundo a mineradora, a CSN tem planos de fazer sua própria pelotizadora e, por isso, recusa-se a assinar contrato de fornecimento de longo prazo, preferindo fazer compras no mercado "spot". "Mas não é possível deixar de atender os contratos de longo prazo para atender a CSN", informa a Vale. O presidente do conselho da mineradora, Sérgio Rosa, afirma que a Vale já propôs construir uma pelotizadora em sociedade com a CSN, mas a siderúrgica não quis fazer o investimento. "Quando o mercado está aquecido, como agora, todo mundo quer a pelota, que agiliza a produção de aço. Um investimento como esse só é possível com garantia de contratos de longo prazo", afirma Rosa, que é também presidente da Previ (dos funcionários do Banco do Brasil). Steinbruch confirma que a Vale já apresentou proposta de investimento em uma pelotizadora, com participações iguais, mas diz que as condições não eram interessantes. "Ela queria montar a usina para operar com minério de Casa de Pedra (mina da CSN), ter todo o poder sobre a gestão operacional e comercial e a CSN teria direito a uma participação na produção apenas para consumo interno. Não poderia vender nenhum grama." Desse jeito, diz o empresário, ele mesmo constrói a usina. Recursos para o investimento, segundo Steinbruch, não seriam problema porque a siderúrgica poderia apresentar o projeto ao BNDES ou captar dinheiro no mercado de capitais. "Acabamos de fazer a segunda maior emissão de bônus perpétuos do mundo, com US$ 750 milhões. O Bradesco conseguiu US$ 300 milhões e a Braskem, US$ 150 milhões. Só ficamos abaixo da mexicana Pemex, que pegou US$ 1 bilhão." Para o presidente da CSN, a pelota é essencial para as usinas completarem suas cargas de alto-forno, obtendo maior rendimento. Embora Rosa afirme que a Vale não tem obrigação de garantir pelotas ao mercado interno, Steinbruch diz que a mineradora detém 100% da produção do país, com sete usinas em Tubarão (ES), uma em Minas Gerais e uma no Maranhão, além de controlar 50% da Samarco. (RB e IR)