Título: Crise debilita ânimo dos paranaenses para 2005/06
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2005, Agronegócios, p. B12

Conjuntura Desempenho da nova safra refletirá as feridas de 2004/05

O produtor Norberto Corrent, de Mamborê, no noroeste do Paraná, começa a se preparar para o plantio da próxima safra de grãos, mas sem resolver todas as pendências da safra velha. Enquanto o trigo se desenvolve no campo, Corrent está renegociando dívidas de investimentos de 2004/05 e ainda tem soja "velha" para vender. Em um ano de crise na agricultura por causa da queda do dólar ante o real e da seca em algumas regiões, Corrent não está sozinho. Muitos produtores tentam renegociar as dívidas passadas - de custeio ou investimento - até para que possam definir o plantio na safra 2005/06. Reflexo dessa incerteza é a lentidão nas compras de insumos por parte dos produtores. Corrent, por exemplo, adquiriu sementes e adubos em junho passado, mas admite que, em 2004, começou a comprar dois meses mais cedo. Osmar Vicente, que planta em sociedade com irmãos e cunhados em Araruna e Farol, no noroeste paranaense, também deixou para comprar insumos mais tarde este ano. Mas afirma que isso não significará redução no uso de tecnologia, o que pode afetar a produtividade. "Não adianta diminuir investimento em tecnologia. O negócio é diminuir o custo", defende. As cooperativas agrícolas da região, no entanto, reconhecem que a venda de adubos deve cair em relação à safra 2004/05. Na Coamo - Agroindustrial Cooperativa, de Campo Mourão, que tem Corrent e Vicente como cooperados, a comercialização de fertilizantes mal começara na primeira semana de julho e a reserva de sementes também estava atrasada. Num ano "normal", as campanhas de vendas começam no fim de maio. A estimativa do presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini, é que as vendas de adubos caiam 15% a 20% este ano em relação a 2004. Ele não acredita, porém, em redução na área de plantio na safra nova na região da Coamo, que teve 1,4 milhão de hectares de soja e 260 mil hectares de milho na safra de verão 2004/05. "Devemos ter baixa tecnologia, então cairá o volume de insumos que vamos fornecer", afirma. Segundo Gallassini, a Coamo está negociando com as indústrias a compra de herbicidas e inseticidas, produtos cujos preços ainda não registraram queda expressiva mesmo com a desvalorização do dólar ante o real. Isso já ocorreu com fertilizantes, que tiveram recuo de cerca de 26% nos preços, conforme Gallassini. Roberto Petrauskas, superintendente comercial da Coamo, observa que este é um ano "totalmente diferente de 2004", quando os preços da soja estavam em alta, e os produtores anteciparam as compras de insumos. Agora, diz ele, o produtor vai ter de se acostumar aos níveis históricos de preço para a soja, entre US$ 11,00 e US$ 11,20 por saca. No auge da valorização, em março de 2004, a saca chegou a atingir US$ 18,00 no Paraná, o equivalente a R$ 52,50 na época. O presidente da Cocamar, Luiz Lourenço, pondera que as cotações da soja vão depender do clima nos Estados Unidos, mas também acredita que o preço voltará aos níveis históricos. Os próprios agricultores concordam que terão de ser mais realistas. "O produtor estava mal-acostumado, ganhando muito [com a soja]", reconhece Edemir Mottin, que tem propriedade em Nova Cantu e Campina da Lagoa. Ele chegou a ter uma margem de lucro de 70% na safra 2003/04, mas conseguiu menos de 20% no ciclo seguinte. O problema de Mottin foi o de tantos outros produtores: comprou os insumos para a safra 2004/05 com o dólar caro - a R$ 3,15 - e está comercializando a produção com a moeda americana ao redor de R$ 2,35. Para fugir do custo alto novamente, o produtor acabará investindo menos em tecnologia, avalia Valdomiro Bognar, vice-presidente da Coopermibra - Cooperativa Mista Agropecuária do Brasil, também em Campo Mourão. "Se investir tudo o que gostaria, o produtor não consegue pagar as contas". Por ser um Estado em que as fronteiras agrícolas já estão praticamente tomadas, a expectativa é de manutenção das áreas de plantio no Paraná. Na região de atuação da Cocamar, em Maringá, contudo, espera-se diminuição no ritmo de abertura nas áreas de arenito, onde o plantio de soja vinha avançando nas últimas safras. "O produtor está receoso", afirma Celso Carlos dos Santos Júnior, superintendente comercial e industrial da Cocamar. Ele reconhece que as campanhas de venda de fertilizantes estão atrasadas, mas avalia que "ainda não é possível falar em queda de venda de adubos". Atrasada também está a comercialização da soja. Na região da Cocamar, as vendas somavam 45% do total na primeira semana de julho, 10 pontos percentuais abaixo do volume comum nessa época da safra, conforme a cooperativa. No Paraná, a comercialização de soja estava estimada em 50% no começo do mês, de acordo com Petrauskas, da Coamo. Ele afirma que essa também é a situação na região da cooperativa, e que o normal para esse período seria a comercialização entre 60% e 65% do volume.